Brasil

“A Globo quer abafar e não revelar”.

O jornalista Gleen Greenwald rebateu, nesta quinta-feira, através das redes sociais, a estranha e longa nota da TV Globo divulgada ontem no final da tarde que, curiosamente, não foi reproduzida em forma de mini-editorial no Jornal Nacional, na voz do apresentador Willian Bonner.


Na nota, a Globo colocou em suspeita o caráter do jornalista do Intercept, informando que Greenwald já foi parceiro da TV Globo, em 2013, quando a emissora colocou no ar, via Fantástico, reportagens sobre os documentos secretos da NSA referentes ao Brasil.


Segundo a Globo, o jornalista procurou a direção da Globo no mês passado, para que uma nova parceria fosse feita. Disse apenas que era uma “bomba”, mas que não poderia dar detalhes do conteúdo. A emissora dos Marinho quis saber os detalhes e a negociação morreu aí.


Hoje cedo, Greenwald respondeu, dizendo que a nota da Globo tem “acusações e falsidades sobre mim”. Segundo ele, “O objetivo é claro e é o mesmo que aparece em toda a cobertura da Globo sobre esse assunto: distrair a atenção da substância das reportagens que expõe sérios desvios na conduta de Moro, Deltan e a Força Tarefa da Lava Jato. Não ajudarei nesse esforço”.


Veja alguns trechos da nota de Gleen Greenwald:


Mantenho minhas críticas às decisões corporativas da empresa e ao que considero que sejam os efeitos negativos da influência da Globo no país (obviamente incluindo o apoio dela à ditadura militar, para o qual pediram desculpas apenas em 2013, quando forçados a fazê-lo, mas que ainda é responsável pelos bilhões de reais em riqueza desfrutados pela família Marinho, mas muito mais danos além disso). Incluo agora em minhas críticas a cobertura que tem feito da #VazaJato, e o que ser um esforço para diminuir sua repercussão e proteger o ministro Sergio Moro e a força tarefa da Lava Jato.


É uma realidade lamentável que no Brasil, ao contrário de qualquer outro país no mundo democrático, um órgão de mídia seja tão dominante na televisão, obrigando qualquer pessoa que deseje atingir um público grande a trabalhar em conjunto com a Rede Globo. É por isso que trabalhei no caso Snowden com a Rede Globo e é por isso que propus que colaborássemos novamente.


Até hoje, a Globo – em contraste com muitos outros grandes jornais e revistas no Brasil e internacionalmente – continua desinteressada em obter acesso ao arquivo, e as razões me parecem claras: eles preferem abafar, ao invés de revelar, os desvios da Lava-Jato e Moro.
Todos órgãos de imprensa têm excelentes repórteres e jornalistas. Porém, ainda que esses profissionais desenvolvam um grande trabalho, é muitas vezes necessário que eles sejam amparados com uma instituição compromissada com jornalismo investigativo e destemido. Não creio ser este o caso da Globo.


Foi com essa missão que fundei o Intercept, e é esse o nosso compromisso. Entrar em disputas com a Globo agora seria dar gás aqueles que pretendem desviar a atenção do que vai ficar o assunto principal: a conduta dos procuradores da força-tarefa Lava Jato e do ex-juiz e agora ministro Sergio Moro.

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