Brasil

Mais de 50 organizações ligadas à questão agrária se reúnem para construir plataforma unitária

Seminário propõe agenda unificada de construção entre os dias 6 e 8 de junho. O foco da plataforma é enfrentar os desafios para um programa de soberania nacional e combate à lei da grilagem, aprovada após o golpe de 2016.

Entre os dias 6 e 8 de junho pelo menos 50 organizações, partidos políticos, ambientalistas,  intelectuais, indígenas, quilombolas e artistas vão se reunir na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema/SP para elaborar uma plataforma unitária que terá o papel central de enfrentar os desafios para um programa de soberania nacional com foco no debate da posse e do uso da terra e dos bens da natureza.   

“Nossa expectativa é construir uma plataforma que articule e unifique essa ampla diversidade de atores e atrizes que atuam no campo, nas águas, nas florestas e consiga construir uma linha de trabalho, uma referência”, afirmou Eugênio Peixoto do Fórum de Gestores responsável pelas políticas de apoio à agricultura familiar do Nordeste, uma das entidades mobilizadoras. A Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), Campo Unitário (que congrega um extenso rol de entidades, como Contag, Contraf e Via Campesina) e ENFF também integram o grupo de organização.  

O Seminário Terra e Território: Diversidade e Lutas propõe o alinhamento político no debate da terra no Brasil entre as diversas organizações que lutam em defesa da agricultura familiar, da agroecologia, das comunidades indígenas e quilombolas, pela alimentação saudável e pela construção de um modelo de desenvolvimento que estabeleça uma relação altruísta entre a humanidade e meio ambiente. A partir desse encontro sairá um calendário de lutas para o próximo período.  Como aponta Nicinha Porto, presidente da Abra, “O objetivo é fazermos uma leitura unificada da conjuntura, mas especialmente buscar construir uma plataforma articulada, coletiva e possível, voltada para essa luta de fortalecer as bandeiras do campo.”

A programação conta com análise de conjuntura nacional e internacional, mesas temáticas e debates em grupo, além do lançamento do livro Sem Terra em cartaz, da editora Expressão Popular. Como desdobramento, no sábado acontecerá um ato político aberto à imprensa, com a presença de personalidades e gestores públicos. Na ocasião será Lançada a Plataforma para o Campo Brasileiro, a Carta da Terra e a agenda de atividades.  

“Os ataques ao meio ambiente, não são só às populações tradicionais, indígenas e quilombolas, e aos pequenos agricultores, mas contra a humanidade, é muito desafiador esse momento”, concluiu Nicinha.

Retrocessos

Cercado de representantes do agronegócio e da bancada ruralista, não é novidade que o presidente da República, Jair Bolsonaro defende a agenda políticas destes grupos. Consequência da prevalência da agenda do agronegócio é o aumento da violência no campo.   

Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), reunidos no relatório “Conflitos no Campo Brasil 2018”, aproximadamente um milhão de pessoas estiveram envolvidas em conflitos no campo no Brasil em 2018, mais especificamente foram 960.630, um aumento significativo de 35,6%  em relação a 2017. Em 2018 ocorreu uma queda substancial no número de assassinatos – 71, em 2017 para 28 em 2018, a CPT analisa que anos eleitorais tendem a ter uma diminuição nesse tipo de violência, entretanto, 2019 já aponta o retorno do aumento dos assassinatos. Nos quatro primeiros meses do ano já foram registrados 10 assassinatos em conflitos no campo e esse número pode ser ainda maior.

Para Acácio Briozo, da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), as falas do presidente da República contribuem para o aumento da violência, “Isso cria um ambiente autorizativo para a barbárie, dado a indiferença do governo com os massacres, assassinatos e outros processos de violência instaurados no meio rural, incluindo a invasão de terras indígenas”, finalizou.  

Evento
Seminário Terra e Território: diversidade e lutas
6 a 8 de junho
Escola Nacional Florestan Fernandes – Guararema


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