Em artigo publicado neste domingo (3) na Folha, o jornalista Igor Gielow informa que, depois de dezenas de declarações disparatadas e pessoais, o chanceler Ernesto Araújo levou uma meia-tranca dos militares. Com isso, o Itamaraty está sob monitoramento das Forças Armadas. Araújo agora só fala em nome do governo.
Após participar, no dia 04 de janeiro, de reunião no Peru do Grupo de Lima, que reúne 14 países, para discutir a situação política venezuelana, o chanceler Ernesto Araújo passou a receber uma espécie de intervenção branca da ala militar do governo.
Segundo o artigo de Gielow na Folha de S. Paulo, o chanceler, que nunca comandou um posto no exterior, se “indispôs com os militares logo na largada do governo, numa crise até aqui inaudita”.
O grupo de Lima, alinhado aos interesses dos Estados Unidos na região, se encontrou para determinar novas medidas contra o presidente Nicolás Maduro.
Quando o documento com as novas medidas foi divulgado, militares ligados à área de inteligência ficaram de cabelo em pé com o item “D” das providências anunciadas: “Suspender a cooperação militar com o regime de Nicolás Maduro”, afirma Gielow.
Ernesto Araújo não consultou a área militar sobre as novas medidas contra a Venezuela. A irritação do grupo militar do governo foi tanta que alguns oficiais sugeriram que Araújo fosse demitido. Outros, para evitar o dano de imagem que tal queda geraria, sugeriram que ele se consultasse mais com os ministros da área militar.
Ao mesmo tempo, outra crise transcorria entre os militares e o chanceler, essa conhecida por todos: o presidente Jair Bolsonaro e o chanceler defenderam a instalação de uma base americana no Brasil.
Para os militares instalar uma base militar americana no Brasil não é algo viável. O general da reserva Augusto Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional) buscou reduzir tudo a um mal-entendido por parte da mídia, mesmo depois do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ter confirmado a oferta.
Ao longo do mês de janeiro já se notava o efeito da tutela militar sobre Araújo. O chanceler reduziu suas declarações no caso Venezuela e apenas 7 das 22 postagens que fez no Twitter em janeiro eram sobre Venezuela.
“Na mão inversa, o general Hamilton Mourão, vice-presidente que ocupou a cadeira de Bolsonaro por seis dias no mês, falou em diversas ocasiões sobre a crise”, afirma Gielow.
O general também declarou ser “conservador”em relação a mudança da embaixada do Brasil em Tel Aviv para Jerusalém. Mourão, como presidente interino, recebeu duas delegações árabes para dizer que não haverá mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém.
A ideia de intervenção militar contra Maduro também foi descartada por Mourão, assim como pelo general Heleno. O vice-presidente foi adido militar brasileiro na Venezuela de 2002 a 2004.
Também houve troca de farpas públicas entre Mourão e Olavo de Carvalho, a quem Araújo deve sua indicação.
Em uma entrevista à revista Época, o vice também criticou o chanceler dizendo que ele não havia dito a que veio. “Em particular, oficiais da ala militar e generais da ativa são bem menos diplomáticos, especialmente quando comentam o caudaloso discurso de estreia de Araújo. Outras manifestações, como o artigo em que creditou a Deus a união entre Bolsonaro e Olavo, são apenas alvo de chacota”, afirma o jornalista.