Mundo

Eleições EUA: progressistas têm avanço expressivo na Câmara dos Representantes

Se é bem verdade que não devemos esperar mudanças significativas em termos de política externa, internamente há um rearranjo importante de forças. Trump perdeu apoio em Estados que votaram por ele nas eleições presidenciais. 

Os Estados Unidos acabam de eleger seus representantes para o Congresso. E a análise dos resultados traz algumas conclusões muito interessantes — inclusive para pensarmos o que podemos esperar para o Brasil nos próximos anos.

Trump conseguiu manter a maioria no Senado. Mas os progressistas tiveram um avanço expressivo na Câmara dos Representantes. E digo progressistas porque essa não foi uma vitória dos setores tradicionais dos Democratas, mas sim de movimentos populares que vêm crescendo e se consolidando desde a eleição de Trump, como os Democratas Socialistas (conhecidos como DSA), Our Revolution (movimento que nasceu da campanha presidencial de Bernie Sanders), #MeToo, Black Lives Matter.

Foi uma disputa acirrada, mas que revelou dois aspectos muito importantes: em primeiro lugar, que houve uma resignificação da importância do voto. Nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório, e as eleições de meio de mandato têm, historicamente, baixa participação. Esse ano foi diferente: só nos votos antecipados, houve um aumento de mais de 45% dos eleitores, se comparado com 2014. O segundo aspecto é a busca por renovação representativa e plural. Pela primeira vez na história, mas de 113 mulheres integrarão o parlamento, e o país terá representantes indígenas e muçulmanas. Texas elegeu representantes latinas, e o Colorado terá o primeiro governador abertamente gay da história do país. Nova Iorque não só elegeu a congressista mais jovem da história, mas também uma representante cuja plataforma é abertamente socialista e anti-corporativista.

Se é bem verdade que não devemos esperar mudanças significativas em termos de política externa, internamente há um rearranjo importante de forças. Trump perdeu apoio em Estados que votaram por ele nas eleições presidenciais. Os Democratas (apesar de terem vantagem no voto popular em todas as disputas) também perderam Estados importantes na corrida pelo Senado – especialmente naqueles onde optaram por candidatos desconectados dos movimentos de base do partido.

E que lições podemos tirar disso? Bom, talvez a mais importante é que há um limite para  a política de ódio e medo que impulsionou a candidatura de Trump — assim como a de Bolsonaro no Brasil. Muitos dos eleitores que o apoiaram em 2016 não apoiaram os candidatos republicanos esse ano. O que revela que a plataforma de “outsider” não forja lealdade eleitoral de longo prazo, mesmo com resultados econômicos positivos.

Por outro lado, a derrota dos Democratas em Estados-chave mostra que não basta combater a extrema-direita. É preciso também desconstruir o centro neoliberal, que apesar de sofrer perdas em um primeiro momento de avanço do neo-fascismo, retoma com mais força quando os limites das democracias de muito baixa representatividade começam a ficar mais evidentes. Por último, mostra a profunda necessidade de rearticulação e reorganização dos partidos tradicionais com os movimentos populares, com formas de expressão política que realmente traduzam os anseios da sociedade.

É verdade que o desmonte das instituições republicanas, fundamental para o ascenso do fascismo neoliberal, é algo cujas consequências perdurarão por anos, também é verdade que governos extremistas são catalisadores de profundas reorganizações sociais. Não há mal que sempre dure. E uma vez desperta a consciência coletiva, as mudanças são inevitáveis.

 

Notícias relacionadas