Cultura

Cineasta Ucraniano Sergei Loznitsa tensiona a fronteira entre documentário e ficção

O Instituto Moreira Salles realiza mostra cinematográfica com a obra do cineasta Ucraniano até o dia 14 de outubro. Na ocasião, duas masterclasses serão realizadas gratuitamente em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.

Nesse começo de outubro, até o dia 14, o Instituto Moreira Salles, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, está realizando uma mostra cinematográfica de um dos cineastas mais importantes do leste europeu: o diretor Ucraniano, Sergei Loznitsa.

O IMS de São Paulo e do Rio vão mostrar doze filmes de Loznitsa, entre ficção e documentários, e o próprio Sergei Loznitsa está vindo para o Brasil para ministrar três masterclasses gratuitas – duas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro.

Loznitsa é ucraniano, aqui no Brasil isso de nacionalidade é muito mais simples, se você nasceu no Brasil é brasileiro, fim. Lá para aqueles lados é mais complicado.

Quando Loznitsa nasceu sua terra natal fazia parte da União Soviética. Na verdade, ele nasceu na Bielorrússia, depois sua família mudou para Kiev na Ucrânia onde ele fez toda sua educação.

Sergei Loznitsa teve uma formação de matemático, de cientista – virou até intérprete de japonês – após esse período se mudou para Moscou e foi lá que ele estudou cinema e teve sua formação como cineasta.

Podemos até dizer que Loznitsa teria sua identidade repartida entre esses três povos irmãos da Rússia, a Rússia branca, a Bielorússia e a Ucrânia ou a grande Rússia. Mas ele é Ucraniano e na verdade sua identidade, sua fidelidade está com a Ucrânia como se nota em DONBASS, seu filme mais recente e que será exibido nesta mostra do IMS.

DONBASS é ambientado na região leste da Ucrânia, região que se rebelou contra o poder central e que ficou do lado dos russos. Loznitsa retrata aquele lugar como uma terra de bandidos, denuncia aquilo em um registro que fica entre o humor negro e a denúncia mais cruenta.

Sergei Loznitsa já teve filmes exibidos no Brasil, alguns filmes de ficção, como por exemplo “Minha Felicidade” – esse eu recomendo bastante porque é um retrato duro da Rússia contemporânea. E o “Na Neblina”, filme sobre a Segunda Guerra Mundial um pouco diferente dos filmes que você já viu.

Para vocês que comparecerem na mostra e forem assistir aos filmes,  Loznitsa às vezes deixa a impressão que seu interesse não está na trama, nos personagens, é um interesse mais voltado para o clima, para as paisagens e o seu conceito sobre paisagem abarca, também, a paisagem sonora.

Eu me encanto com o uso que o Loznitsa faz do som em seus filmes.  Não por acaso este é um dos temas que ele irá abordar em sua masterclass.

Também será exibido um filme chamado “Uma Criatura Gentil” – esse eu ainda não vi mas estou muito curioso – uma adaptação muito pessoal de uma novela curta de Dostoievski que a professora Fátima Bianchi traduziu como “Uma criatura dócil”.

Loznitsa tem atuação como ficcionista e como documentarista. Do ponto de vista formal, seu último filme, DONBASS, tensiona a fronteira entre esses dois gêneros. É um daqueles filmes que a gente reflete o que é fazer documentário e o que é fazer ficção.

Por quê?

Porque a base do DONBASS teria sido um vídeo caseiro que foi mandado para o Loznitsa e ele recriou esse vídeo.

Então, a matéria-prima que ele usa seria inicialmente documental, seria “verdade” e ele manipula isso de uma maneira artística. O diretor recria fora daquelas condições o que seria as condições iniciais de um vídeo amador.

Após sua passagem pelo Brasil, Loznitsa volta para a Alemanha para filmar a história do Babi Yar – uma ravina em que, na Segunda Guerra Mundial, ocorre um dos maiores massacre de judeus realizados pela ocupação nazista.

É um diretor que está sempre mexendo com assuntos candentes, que tem uma solidez muito grande na sua linguagem formal.

Na minha opinião vale a pena, você que está em São Paulo ou no Rio de Janeiro, se deslocar até o Instituto Moreira Salles e acompanhar essa mostra.

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