Brasil

Miro estreia no Nocaute: como a mídia vai lidar com Bolsonaro, o monstro que ela criou?

Em sua estreia no Nocaute, o jornalista Altamiro Borges fala sobre as diretrizes editorias da grande mídia nas eleições de 2018.

Olá, tudo bem? Aqui é o Miro. Eu sou jornalista, sou coordenador de uma entidade chamada Centro de Estudos Barão de Itararé que se dedica a questão de mídia. E a partir de hoje eu converso com vocês sobre um assunto sempre muito quente sobre o papel da mídia no Brasil. Eu gostaria de começar pelo seguinte: ontem, domingo (5), tivemos o fechamento das alianças partidárias. Essa semana essas chapas serão registradas.

Com isso eu penso que o Brasil ingressa de vez na batalha da sucessão presidencial. Essa batalha vai ser muito curta. Talvez a mais curta da história recente do país. Apenas sessenta dias daqui até o primeiro turno das eleições.

E essa batalha se dá num clima de muita instabilidade no Brasil. O Brasil viveu um golpe parlamentar judicial midiático. O Brasil tem um preso político. Uma das principais lideranças populares do país. Uma das pessoas mais reconhecidas do mundo, Lula. Está em um cárcere em Curitiba.

O Brasil vive um processo de judicialização da política impressionante. Essa semana mesmo que passou o Tribunal acelerou o processo de registros de candidatura. Ou seja, vamos para uma eleição que é muito instável, em curto espaço de tempo.

Nessa eleição fica a pergunta: qual vai ser o comportamento da mídia? A mídia brasileira continua sendo uma grande protagonista política. Eu diria que é o maior partido político no Brasil. É o partido da direita e do capital no Brasil.

Essa mídia está sofrendo uma crise no seu modelo de negócios. Agora mesmo a editora Abril está demitindo dezenas de jornalistas. Mas ela ainda joga, como eu disse, um papel de protagonista no cenário político brasileiro. Como ela vai se comportar? Me parece que ela já definiu duas diretrizes editoriais e uma ainda está indefinida.

Assim, a primeira diretriz editorial é que o Lula não deve ser candidato. Então a mídia decretou. Parece que a mídia substituiu o Judiciário, substituiu os ministros e já decidiu que o Lula não pode ser candidato. Isso foi o editorial da Folha na semana passada, que decretou. Isso é a revista Istoé, que alguns carinhosamente chamam de revista Quantoé, essa semana que também já decretou que o Lula não poderá ser candidato. Isso é a postura do principal veículo de mídia do Brasil, o grupo Globo.

O Globo está adotando o comportamento que é esconder o Lula. Como se fazia na época da ditadura. É um desaparecido político o Lula. Sumir com o Lula. Então, eu acho que essa é uma diretriz editorial que a mídia como partido único já definiu: Lula não será candidato.

Uma segunda diretriz que a mídia já definiu é que o Alckmin é o candidato dela. O Alckmin não é o melhor candidato. Ela tentou alguns outsiders. Algumas celebridades midiáticas, os Hucks da vida, para ver se conseguia emplacar. Não conseguiu emplacar, sobrou o chuchu.

Então a mídia vai de picolé de chuchu, mesmo sabendo que ele é difícil, meio insosso. Que não decola nas pesquisas. Mas a mídia bateu o martelo. Então você começa a sentir isso em vários movimentos. Revista Veja, esse detrito de maré, como dizem, na semana passada deu destaque ao perfil do Alckmin nas suas redes sociais. A foto do Alckmin abria as redes sociais da revista ‘óia’. O Estadão já declarou em editorial. O grupo Globo procura ao máximo evitar falar dos problemas envolvendo as administrações tucanas em São Paulo. Parece que o Alckmin é um santo. Não aquele santo que saiu nas planilhas das propinas da Odebrecht.

Então, a mídia parece que fechou com o Alckmin. Essas duas diretrizes já estão definidas: Lula não é candidato e Alckmin é o candidato que sobrou.

A terceira é que eu acho que ainda a mídia está com uma bola dividida. Que é como tratar a sua criatura. A mídia chocou o ovo da serpente que se chama Bolsonaro. Bolsonaro é uma criatura da mídia. A mídia com a sua criminalização da política e com a sua escandalização do problema de segurança no Brasil criou um clima de medo e de insegurança que projetou a figura do coronel amante da tortura, Jair Bolsonaro.

O problema é que o Bolsonaro tira voto do Alckmin. Então, como a mídia vai tratar esse negócio? Se bater muito forte no Bolsonaro, para servir a candidatura Alckmin, ela teme que vá para o segundo turno alguém pela direita extremada e alguém de esquerda, mesmo que não seja o Lula. Se ela não bate muito duramente no Bolsonaro, é o Alckmin que pode não ir para o segundo turno.

Então, eu acho que esse é um impasse que a mídia ainda está vivendo. Ela definiu duas diretrizes editoriais. E tem uma ainda a definir. Vamos conferir como vai ser nos próximos dias.

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