Brasil

Celso Amorim: “Precisamos falar do fascismo”


Há pouco tempo participei de um evento aqui no Rio, parte de um evento aqui no Rio que se chamou: Precisamos falar de fascismo. Eu acho que agora com esse assassinato brutal, essa execução da Marielle e do Anderson, torna urgente falar do fascismo porque é isso é o que nós vemos acontecer.
Por que ela foi assassinada? Ela foi assassinada porque ela é negra, porque ela é mulher, LGBT, mas também porque defendia os direitos humanos e era uma política. Não há como separar o fato de ser uma execução de uma execução política e, se é uma execução política, a responsabilidade em última instância cabe ao Estado, que tem a obrigação de proteger os seus cidadãos e sobretudo aqueles que estão defendendo posições, representando posições.
Eu fico muito preocupado porque eu vejo que mesmo entre aqueles que dizem ou aceitam que é execução, procuram usar um pouco este conceito no sentido de fortalecer a intervenção militar e de fortalecer os aspectos repressivos. E não será por aí que encontraremos uma solução.
Nós só vamos encontrar uma solução para estas questões com real ataque aos problemas sociais que criam essas situações. E veja bem, isso também não é uma coisa que pode ser de cima para baixo, é preciso que a Marielle e muitas outras Marielles sejam candidatas e se apresentam, e defendem e que não tenham o temor de ser assassinadas, para que elas próprias ou os homens também que tenham nessa situação, defendem essas teses.
O Brasil durante muito tempo viveu sob a ilusão, ou a auto-ilusão, de que era uma democracia racial. Isso não é verdade. No Brasil há discriminação, e não só, a discriminação racial é que perpetua em grande medida o problema social.
Ao contrário do que dizem alguns sociólogos, não é resolvendo um problema social que se vai resolver o problema racial, não se vai conseguir. É atacando também o problema racial de frente que se poderá encontrar uma solução para o problema social.
Isso não será feito pelos brancos. Terá que ser feito pelos próprios negros, pelas mulheres negras que saibam defender seus interesses e que não podem temer que por defender esses interesses e defender outros jovens negros sejam executados de uma hora para outra em uma rua central do Rio de Janeiro.
É o momento de todas as forças de esquerda, todas as forças progressistas se unirem em torno de pautas como esta.

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