América⠀Latina

EUA querem usar Brasil e Colômbia para fazer o serviço sujo na Venezuela

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já anunciou não descartar uma ação militar para derrubar o governo de Nicolás Maduro. Ao mesmo tempo, o Departamento do Tesouro divulga uma escalada de sanções individuais a venezuelanos, com suspensão de vistos e bloqueio de recursos.
Mas os Estados Unidos não estão dispostos a se engajar diretamente em uma intervenção militar na América Latina. Vão usar um dos vários governos títeres da região para fazer o trabalho sujo: Colômbia e Brasil.
Vizinhos da Venezuela, os dois países têm uma relação ruim com o governo Maduro. No caso do Brasil, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, não só criticou a realização da Assembleia Nacional Constituinte como liderou a decisão do Mercosul de suspender os venezuelanos do bloco.
Já a Colômbia tem um histórico de desentendimentos que vem desde o governo do conservador de Álvaro Uribe. Caracas e Bogotá chegaram a suspender as relações diplomáticas e fechar as fronteiras.
A intervenção na Venezuela será terceirizada. Assista à analise de Aline Piva para o Nocaute:

Donald Trump acaba de confirmar o que muitos de seus principais assessores vem apontando há tempos: que uma opção militar não está descartada para a Venezuela. Mas estariam os Estados Unidos dispostos a se engajar diretamente em uma intervenção militar com o vizinho latino-americano? Ou usarão um dos vários governos títeres na região, como Temer no Brasil ou Santos na Colômbia, para fazer seu trabalho sujo?
Rex Tillerson, Secretário de Estado  – “Venezuela, como você sabe, está muito presente nas nossas mentes. Nossa abordagem à Venezuela tem sido a de tentar através de parceiros da coalização, através da OEA bem como de outros que compartilham da nossa visão sobre o futuro da Venezuela. Estamos avaliando todas as nossas opções políticas sobre o que podemos fazer para criar uma mudança nas condições onde ou Maduro decida que ele não tem um futuro e quer sair por iniciativa própria; ou podemos retornar os processos do governo de volta à sua constituição”.
Tillerson deixou muito claro que os Estados Unidos estão instrumentalizando não só a OEA, mas também as ações de seus aliados na região, para aprofundar as crises política e econômica na Venezuela, “criando as condições” para que ou Maduro se veja obrigado a renunciar, ou para a consolidação de um golpe de Estado.
Essa parece ser também a avaliação do almirante James Stavridis, ex-Comandante da OTAN e ex-chefe do Comando Sul. Para ele, a decisão mais inteligente nesse momento não seria uma intervenção direta dos Estados Unidos, mas sim – e aqui repito suas palavras – “trabalhar estreitamente com a OEA, e particularmente, com os vizinhos da Venezuela, Brasil e Colômbia, ambos com capacidade militar significativa”. Veja bem: o Brasil pós-golpe, aquele que convidou os Estados Unidos para fazer exercícios militares na fronteira com a Venezuela, terá, na avaliação da administração Trump, um papel fundamental em uma possível intervenção militar na Venezuela – ainda que não o único. Para diretor da CIA, por exemplo, México e Colômbia também serão atores-chaves nessa “transição” forçada.
Mike Pompeo, diretor da CIA – “Eu sempre tenho cuidado quando falo sobre a América do Sul e Central e a CIA – há muitas histórias – então eu quero ter cuidado com o que eu digo, mas basta dizer que temos muita esperança de que possa haver uma transição na Venezuela e nós, a CIA, estamos fazendo nosso melhor para entender a dinâmica lá para que possamos nos comunicar com nosso Departamento de Estado e com outros. Eu estive na Cidade do México e em Bogotá na semana passada, falando sobre essa questão, tentando ajudá-los a entender as coisas que eles poderiam fazer para que eles pudessem obter um melhor resultado para a sua parte do mundo e para a nossa parte do mundo”.
Mas porque os Estados Unidos precisariam de uma intervenção indireta? O próprio general McMaster, assessor de Segurança Nacional de Trump, responde:
General H. R. McMaster, assessor de Segurança Nacional – “Bem, você sabe, há uma longa história de intervenção americana na região, e isso tem causado, você sabe, problemas no passado. E então eu acho que nós estamos muito conscientes do fato de que não queremos dar a esse regime ou a outros a oportunidade de dizer: ‘Bem, você sabe, este não é um problema do Maduro. Este é o – isto é, os Yankees estão fazendo isso. Isto é, isto é, eles são a causa do problema”.
As guerras indiretas ou por procuração foram uma tática muito utilizada pelos Estados Unidos e pela União Soviética para estabelecer suas áreas de influência durante a Guerra Fria. Essas guerras consistiam na intervenção de uma ou outra potência (ou ambas, em alguns casos), através de operações sigilosas e redes de financiamentos, para avançar suas agendas através da atuação de terceiros. Se é bem verdade que hoje vivemos em um contexto geopolítico distinto daquele da Guerra Fria, também é verdade que a lógica permanece. A diferença, segundo Mumford, um pesquisador da Universidade de Notthingham, é que hoje as guerras indiretas são caracterizadas por serem “conflitos nos quais uma terceira parte intervêm indiretamente para influenciar resultados estratégicos em favor da facção de sua preferência.” E essa parece ser justamente a lógica que move os influenciadores da política externa dos Estados Unidos em relação à Venezuela.
A intervenção indireta – seja através de uma guerra por procuração, seja através do financiamento de partidos e ONGs, seja através das sanções individuais – têm a vantagem não só de desmobilizar a reação internacional, como também de construir uma narrativa positiva para a opinião pública, uma vez que essa ingerência vem revestida, vem travestida, com um certo manto de legitimidade. Uma intervenção direta resultaria, invariavelmente, em uma forte reação interna e internacional que poderia comprometer seus planos de recolocar no poder uma oligarquia submissa aos seus interesses. E é justamente o que estamos vendo agora, após a declaração de Trump: países como Peru e Chile, tradicionais aliados dos Estados Unidos, já se declararam contra o uso da violência; Mercosul, que acaba de suspender a Venezuela do bloco, também emitiu uma declaração nesse sentido.
Por outro lado, a ideia de que a opção militar não é carta fora do baralho pode levar a sanções econômicas mais duras, uma vez que consolida uma percepção de que essas sanções não são o pior que poderia acontecer.
Chávez sempre dizia que um dos maiores empecilhos para o avanço dos interesses estadunidenses na região era justamente o fortalecimento do eixo Caracas-Brasília-Buenos Aires. Brasília e Buenos Aires já seguem a cartilha de Washington. Caracas, por sua vez, não parece disposta a se prestar a esse papel tão facilmente. Uma coisa é certa: é impossível negar que os Estados Unidos estejam trabalhando ativamente para desestabilizar o governo democraticamente eleito de Nicolás Maduro.

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  1. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    A articulista continua a ser uma fonte interminável de gargalhadas para qualquer um que não tenha passado por uma processo de lavagem cerebral. Afirmar que o governo brasileiro “convidou o exército americano para manobras militares na fronteira com a Venezuela a mando dos EUA para derrubar Maduro” é piada das boas, já que as tais “manobras” são exclusivamete de logística e os EUA estarão lá como observadores. Mais ainda, ela “esquece” que no governo Dilma as Marinhas do Brasil e dos EUA fizeram atividade preparatória para as Olimpíadas do Rio envolvendo treinamentos com foco antiterrorismo e, em 2015, um porta-aviões americano passou pela costa do Rio Grande do Sul e Rio para treinamento da FAB. E no que toca a Maduro, embora seja lícito dizer que ele foi eleito democraticamente, não se deve esquecer das incontáveis manobras ilícitas que fez e continua a fazer no seu desespero para ficar no poder – mesmo à custa da vida de centenas, da liberdade de milhares e da miséria de milhões.

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      Rodrigo Fogaça Rodrigues says:

      A ingenuidade do amigo não tem limites… acreditar que os EUA não trabalham direta e indiretamente por seus interesses na região é um desafio a inteligência humana.

  2. Avatar

    o Brasil foi “bode expiatório” da Inglaterra na Guerra do Paraguai!!!
    a Inglaterra queria dominar o comércio no Rio da Prata no qual o Paraguaios dominavam!!!

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      José Eduardo Garcia de Souza says:

      Honestamente, não. Se é para se “atacar a Venezuela” – possibilidade que só ocorrre nos delírios de quem acredita nesta balela da utilização das forças brasileiras pelos EUA – qualquer militar ou governante medianamente preparado sebe que depois de tal “ataque” um reforço nas fronteiras é essencial, seja para triar refiugiados e infiltrados, seja para evitar contra-ataques e retaliações.

  3. Avatar

    A mudança de regime ” terceirizada “na Venezuela, só é possível com o beneplácito do governo golpista do Brasil e da Colômbia, antigo desafeto venezuelano . Se fosse por Democracia ( que a venezuela tem de sobra ) e direitos humanos, por que não intervém para mudança de regime na Monarquia da Arábia Saudita ? Se não houvesse petróleo na Venezuela, distante apenas 4 dias das refinarias texanas, os norte-americanos estariam se lixando…. A Maduro resta radicalizar a Democracia e defendê-la, desmascarando a ingerência imperialista , se possível com um Sukhov russo garantindo o espaço aéreo…

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      José Eduardo Garcia de Souza says:

      1) “Democracia radicalizada” é nome de cobertura para ditadura, Lembre do que ocorreu no Brasil, com a tal da “Democracia à brasileira” de 1964 a 1985.; 2) O nome do avião de fabricação russa a que você se refere é Sukhoi, e a Força Aérea Venezuelana dispõe de 64 unidades, contra mais do que 280 A-10C Thunderbolts II, 295 F-15E Strike Eagles e 190 F-22A Raptors da Força Aérea Americana. Não vai dar…

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