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Furo do BuzzFeed: Meirelles lucrou R$ 217 milhões em 2016 com empresa de consultoria

Foto: EBC


 
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, recebeu, três meses antes de assumir a pasta, R$ 167 milhões por serviços de consultoria a grandes empresas. Segundo o site BuzzFeed, que obteve acesso aos documentos, o dinheiro era mantido em contas no exterior.
Meirelles ainda recebeu mais R$ 50 milhões quando já era ministro. Um dos clientes era a empresa J&F, de Joesley Batista.
Segundo a publicação, a transferência dos recursos do exterior para um fundo de investimento no Brasil começou em 1º de fevereiro de 2016, com o processo de impeachment contra a ex-presidenta Dilma Rousseff em andamento e Meirelles cotado para assumir o Ministério da Fazenda.
Foi só em outubro de 2016, quando já era ministro há cinco meses, que Meirelles deixou oficialmente de ter uma empresa de consultoria para megaempresários: “o objeto da HM&A passou a ser administrar bens, alugar e comprar imóveis, além de fazer investimentos”.
O ministro disse à reportagem que os pagamentos foram feitos fora do país por preferência de seus contratantes, que eram empresas globais. Afirmou também que, apesar da fortuna mantida no exterior, ele “confia integralmente nas instituições financeiras brasileiras e aconselha investidores a deixar seus recursos no Brasil porque o país oferece melhores relações de risco/retorno”.

Em setembro de 2016, Meirelles recebeu R$ 50 milhões. Segundo a reportagem, “a distribuição foi por meio da transferência para Meirelles da custódia de cotas da sua empresa no fundo de investimento cujo nome completo atual é: ‘Sagres Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado Investimento no Exterior'”.
Leia abaixo a íntegra das respostas de Meirelles às perguntas do BuzzFeed:
 

1-Por que, em fevereiro de 2016, Henrique Meirelles decidiu receber de lucros R$ 167 milhões referente ao ano de 2015?

É frequente a distribuição de dividendos neste período por empresas. Em 2015, foi registrado o recebimento de rendimentos de serviços prestados ao longo de quatro anos para várias empresas, em projetos de duração variável completados em 2015.
2-Há alguma relação com o processo de impeachment e a possibilidade de assumir a Fazenda?
Nenhuma. Não existia o convite naquele momento.
3-Os documentos são categóricos em afirmar que os valores foram recebidos e mantidos no exterior. Quem pagava o ministro fora do país? Por que esses pagamentos foram feitos fora do país?
Os pagamentos foram feitos por serviços prestados à empresas globais. Foi conveniência destas empresas globais pagar fora do país.
4-Por que o ministro mantinha os valores fora do país? O ministro não confiava nas instituições financeiras brasileiras? O ministro, enquanto investidor, sugere a outros investidores deixar fora do país?
O ministro confia integralmente nas instituições financeiras brasileiras. O ministro aconselha investidores a deixar seus recursos no Brasil porque o país oferece melhores relações de risco/retorno. Os recursos são administrados por gestor independente sem interferência do ministro, figura conhecida como blind trust, para evitar conflitos de interesse.
5-O ministro declarou esse dinheiro fora do país no Imposto de Renda?
Os valores foram declarados no imposto de renda e pagos os impostos municipais e federais. Além disso, foram declarados às demais autoridades competentes.
6-Ao receber esses R$ 167 milhões em lucro, o ministro manteve esse montante em contas fora do país? Ou trouxe para o país?
Veja resposta da pergunta 4.
7-Para quem o ministro prestou serviços em 2015 que justificasse esses R$ 167 mi?
Durante anos, o ministro prestou serviço para uma série de empresas, como Lazard, J&F, KKR, etc, além de participar de diversos conselhos. O ministro foi presidente de grande instituição global e manteve o padrão de rendimentos consistente com sua experiência.
8-Há, nesse montante, valores recebidos em razão dos serviços prestados para a J&F?
É fato público que o ministro orientou a construção da plataforma digital do Banco Original e, portanto, foi remunerado pelo serviço prestado.
9-Por que, em setembro de 2016, o ministro resolveu fazer uma nova distribuição de lucros, sobre o período de janeiro a 30 abril de 2016?
Exatamente porque foi encerrado um balanço em abril, para deixar claro e transparente o corte em relação ao período anterior à nomeção para o Ministério, como recomenda a ética pública.
10-Há alguma relação com o fato de ter assumido a Fazenda dias depois?
A explicação está na resposta anterior.
11-Para quem o ministro prestou serviços nesse período?
Já respondido na pergunta 7.
12-Por que essa distribuição de lucros, no valor de R$ 50 milhões, foi feita mediante a transferência de cotas do fundo Sagres Multimercado para a pessoa física do ministro?
Veja resposta à pergunta 4.

13-Desde quando o ministro ou sua empresa é cotista?

Como já repetido, o fundo é administrado por um gestor de recursos independente.
14-O ministro continua cotista deste fundo? Se não, quando saiu? Por quê?
Veja resposta à pergunta 4.
15-Segundo dados oficiais da CVM, o fundo tinha, naquele setembro de 2016, apenas uma pessoa física como cotista, com 76% do patrimônio. O ministro, por ter um peso tão grande no fundo, tinha alguma ingerência nas decisões de investimento do fundo?
Veja resposta à pergunta 4.
16-O ministro vê algum tipo de conflito de interesse em ser cotista de um fundo administrado pelo Bradesco?
Veja resposta à pergunta 4.
17-O ministro vê algum tipo de conflito de interesse em ser cotista de um fundo com operações na Bolsa e com títulos do Tesouro?
Não. Conforme já foi dito, o fundo é totalmente administrado por um gestor independente.
18-Por que o ministro não tem investimentos em bancos públicos?
Veja resposta à pergunta 4.

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