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A corrupção política é tema de musical na Espanha

O repórter do Nocaute na Espanha, Víctor David López entrevista o diretor Álvaro Lavín e o ator Chani Martín, da peça “Iberian Gangsters”,  primeiro musical espanhol inspirado na corrupção.
Veja como foi:

Olá, bem-vindas e bem-vindos ao Nocaute na Espanha.
A corrupção política aqui na Espanha chegou a um patamar recorde. O primeiro ministro, Mariano Rajoy, vai ter que declarar como testemunha no caso Gurtel, um dos mais famosos do seu Partido Popular. Inclusive, essa corrupção política virou musical. Hoje vamos falar com o diretor e um dos atores da peça “Iberian Gangsters”, no Teatro Pavón de Madri.
Como nasce a peça “Iberian Gangsters”?
Álvaro Lavín (diretor): Nasce, como quase todos os espetáculos da Meridional Producciones, de pôr em comum aquilo que nos preocupa, que nos emociona, que nos chama atenção, que nos impressiona com o que temos ao redor. Julio Salvatierra nos propôs fazer um espetáculo sobre as razões que poderiam levar uma pessoa a se apropriar do que não é dela ao possuir um cargo em uma instituição pública, se corromper. Aliás, nos preocupava muito porque estamos vendo em nosso dia a dia que esse assunto em nosso país está se transformando em um dos problemas mais sérios, uma das maiores preocupações para os espanhóis. Não tínhamos vontade de fazer um espetáculo-documento, só denunciando a situação, mas sim uma comédia; e se pudesse ser um musical, muito melhor. Nasce da necessidade que o teatro tem de contar alguma coisa que você acha que vai melhorar pelo menos o ambiente mais próximo.
O mundo da cultura na Espanha está pouco mobilizado contra a corrupção política?
Álvaro Lavín (diretor): Acho que o mundo da cultura mobiliza-se pouco. E ponto. Nem contra a corrupção nem contra nada. Se olharmos um pouco para a nossa história recente, encontramos pessoas do nosso ambiente profissional que foram muito importantes para que todos conseguíssemos direitos que agora estão sendo debilitados com a desculpa da crise financeira. Não estou culpando só os produtores, mas sim a todas as profissões do mundo da cultura. No demais setores é igual. Acho que na Espanha estamos adormecidos, eu sou o primeiro, não quero jogar pedra no telhado dos outros e esconder a mão. Acho que falta determinação na hora de lutar pelos direitos que nós, trabalhadores, estamos perdendo.
A corrupção, em todos os níveis, é uma coisa quase cultural na Espanha?
Álvaro Lavín (diretor): Sem dúvida. Quando começamos a estudar o espetáculo, não só o Julio como dramaturgo ou eu como diretor, mas trabalhando com os atores, discutíamos que isso faz parte do nosso dia a dia. Não somos grandes escamoteadores, não roubamos grandes quantidades destinadas a melhorar a situação do povo porque não temos cargos públicos; mas se olharmos um pouco ao redor de nós, todos os dias você é responsável por ações que podem ajudar na mudança: quando você não pede nota fiscal, quando você paga em dinheiro negro sem o imposto IVA por um pequeno conserto em casa. Não somos igual de responsáveis que os grandes ladrões, mas podemos olhar pro nosso interior para ver o que podemos fazer para que essa situação não esteja tão normalizada na nossa sociedade.
A corrupção é uma atitude compreensível? Poderia acontecer com qualquer um?
Chani Martín (ator): Bom, comigo não porque não penso nem em estar nessas responsabilidades. Acho que é um problema de casting –não na peça mas sim na política–. O problema é que se aproximaram da política muitas pessoas que não deveriam chegar perto da política, porque não têm uma alma suficientemente limpa e umas ideias suficientemente claras dos bens públicos, como uma coisa alheia, como um bem que não é delas mas sim da generalidade. Então, acho que os políticos deveriam ser exemplares.
A corrupção política já é tanta ao ponto de nem pensarmos na ideologia e só pedirmos honestidade?
Não sei. Acho que a corrupção não tem relação com as ideologias mas sim com as personalidades. Eu me conformo, ou priorizo que um político, seja da cor que for, primeiramente que seja honesto. Isso deveria vir como princípio, e depois que seja de esquerda, de direita ou de centro, de onde ele quiser, mas primeiramente que seja honesto, por favor.
As pessoas que continuam votando nos políticos corruptos são corresponsáveis?
Absolutamente sim. São totalmente corresponsáveis pelo que acontece. A Espanha é um país onde os políticos estão roubando os cidadãos e o cidadão –e que isso se saiba em todos os lugares– vota novamente no político que lhe roubou. Então aqui tem uma coisa que eu pelo menos não consigo assimilar. Nem se rebelam contra essa figura como indivíduo, nem existe essa rebeldia. Existe uma fidelidade às cores políticas que faz as pessoas estarem adormecidas a uns níveis terríveis.
Quero deixar claro que eu não estou na política para me enriquecer.
 

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