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Refugiados: a eficiência europeia em não acolher

Nesta semana, quando se celebra o Dia Mundial dos Refugiados, o repórter do Nocaute em Madri, Víctor David López, faz uma entrevista exclusiva com Esteban Beltrán, o Diretor da Anistia Internacional na Espanha, um dos países mais procurados da Europa por aqueles que tentam escapar de conflitos armados.
Há dois anos, a Espanha se comprometeu a acolher, até setembro de 2017, a 17.300 refugiados. Até agora, recebeu 1.300. Esteban Beltrán revela também como alguns países, como a Alemanha, por exemplo, criaram mecanismos para barrar refugiados, em vez de acolhê-los.
“A Europa está delegando a outros a gestão dos refugiados. E os refugiados que já chegaram à Europa –por exemplo, 62.000 pessoas na Grécia– ainda não foram distribuídos entre os países da União Europeia”, diz.
Veja abaixo a reportagem completa.

Olá, bem-vindas e bem-vindos ao Nocaute na Espanha.
A União Europeia e a Espanha não estão cumprindo com o compromisso de recebimento e acolhida aos refugiados da Síria, do Afeganistão, dos diferentes conflitos do mundo. Hoje vamos falar com o diretor da Anistia Internacional Espanha, o Esteban Beltrán, sobre esse assunto.
A União Europeia recebe o Prêmio Princesa de Astúrias da Concórdia. Mesmo rejeitando os refugiados?
Com o assunto dos refugiados, pelo menos, o prêmio não é merecido. A União Europeia, primeiramente, viu-se surpreendida pela chegada de refugiados e solicitantes de asilo. Isso fez que alguns países, como por exemplo a Alemanha, recebessem um milhão de solicitações de asilo, ou dezenas de milhares, como a Suécia. A partir dessa primeira surpresa, a União Europeia se organizou, não para receber os refugiados, mas para rejeitá-los.

Foto de abril de 2017 mostra cem pessoas a bordo de dois barcos, buscando refúgio no Porto de Motril, Espanha Foto: Marítima Resgate


Como se organizou para rejeitá-los? Fundamentalmente, através de uma política que premia, ou que procura parcerias com os países de onde os refugiados saem. Então fazem parceria com a Turquia para impedir a chegada dos refugiados à Grécia, tentam uma parceria com a Líbia.
Hoje a Anistia denunciou que os guardas da fronteira da Líbia, formados pela União Europeia, estão cometendo violações de direitos humanos contra pessoas refugiadas que saem do país. Tentam parcerias também com o Sudão do Sul ou com o Afeganistão.
Na realidade, a Europa está delegando a outros a gestão dos refugiados. E os refugiados que já chegaram à Europa –por exemplo, 62.000 pessoas na Grécia– ainda não foram distribuídos entre os países da União Europeia.
Então a resposta da União Europeia à, erroneamente chamada, crise dos refugiados –estamos falando de conflitos armados que expulsam os refugiados– é uma resposta desigual entre países; e não de acolhida mas sim de rejeição.
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“Eles não teriam que se tornar refugiados se os Estados Unidos não tivessem destruído seus países”.
A falta de compromisso da Espanha
A Espanha se comprometeu há dois anos a acolher, até setembro de 2017, a 17.300 refugiados. Até agora, recebeu 1.300. Com esse ritmo demoraremos 23 anos em receber os refugiados com os quais nos comprometemos. A Espanha, que está desrespeitando o alvo –hoje mesmo tivemos uma reunião com o Governo espanhol–, culpa a falta de organização dos gregos para levar os refugiados.
A realidade não é essa. Primeiramente, falamos da Grécia, mas poderíamos estar falando da Jordânia, do Líbano e a Turquia e os reassentamentos. E, enquanto o Canadá reassentou 60.000 pessoas em um ano através do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), a Espanha, muito poucos.
E por que os alemães conseguem reassentar muitos mais refugiados que os espanhóis? A nossa opinião é que o governo espanhol não tem a suficiente vontade política para cumprir com as obrigações legais de receber os refugiados.
Por outro lado, os que chegam espontaneamente à Espanha, que no ano passado foram 15.000, em comparação com os 740.000 que chegam à Alemanha não são nada. Portanto, o governo espanhol não se esforça muito para receber os refugiados, não. Acho que a política deles tem a ver com receber um número justo , para eles, de refugiados, mas não fazer mais esforço nem no recebimento nem na acolhida. Porque a acolhida de refugiados na Espanha é um sistema muito pouco acolhedor. Então, o que fazem é lhes dar uma ajuda de emergência com ONGs durante seis meses, às vezes um ano, mas a médio prazo o sistema leva à mendicidade. Não gostaria que as pessoas que estão assistindo ficassem com a impressão de que a Europa tem países ineficientes na crise dos refugiados. São países muito eficientes: muito eficientes para que os refugiados nem cheguem.

Quais países cumprem melhor com o compromisso de acolhida dos refugiados?

O melhor, no sentido de que pelo menos tem uma vontade política de acolher –com todas as imperfeições– é a Alemanha. Um milhão e meio de refugiados em dois anos não é uma meta pequena. A França, 85.000 refugiados, não é uma meta pequena.
O Canadá levou 60.000 pessoas em barcos e aviões, a 12.000 quilômetros do seu país. A Europa não está fazendo isso. Governos latino-americanos não estão fazendo isso. E além disso ainda falta a parte invisível dos refugiados.
Aqui estamos falando dos 65 milhões de deslocados, de 23 milhões de refugiados, mas sempre pensamos na Síria, no Afeganistão, Somália, Eritreia. Também são refugiados os que partem de Honduras, da Guatemala e El Salvador até o México e até os Estados Unidos.
O que fazer agora que esse prazo humanitário termina?
Bom, não somos muito otimistas em atingir o objetivo de 17.000 em setembro. O que esperamos é que o compromisso legal –porque é legal– se estenda e seja prolongado. Porque no final das contas, temos que ver o que fazemos com os 65.000 refugiados da Grécia. Temos que continuar a pressão.
Com um outro governo, a Espanha melhoraria a acolhida dos refugiados?
O problema é a inatividade do governo central. Temos que continuar pressionando para o governo central mudar a sua política. Ter um outro governo seria coisa de ficção científica, não temos. Temos o governo que está aí.
Mas também é verdade que possuímos um parlamento que não tem maiorias absolutas. Isso significa, por exemplo, que uma das nossas ideias, a reforma do sistema de acolhida, pode ser discutida no parlamento. E essa não maioria absoluta pode facilitar o avanço na reforma do sistema de acolhida.

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  1. Avatar
    ivan leduc de lara says:

    Seria criminoso acolher qualquer refugiado sem antes averiguar meticulosamente todo seu passado, para evitar a entrada de terroristas. Aqueles que não puderem descrever o que fizeram em cada ano de sua vida pregressa devem ser isolados até a expatriação. A preservação da vida da população exige tais medidas.

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