Brasil

A pós-realidade política é uma obra coletiva


 
Por Gabriel Priolli

As delações da JBS, tanto a de Joesley Batista quanto a de seu funcionário Ricardo Saud, têm uma vantagem inegável.
 
Elas não confirmam apenas a contaminação do sistema político brasileiro, inteiramente corrompido, o que já é público desde as delações da Odebrecht, da OAS e de outras agências de negócios privados com o Estado.
 
A grande virtude das delações é demonstrar que, definitivamente, ultrapassamos o tempo em que a verdade dos fatos e o peso real de suas consequências era um fundamento para o debate público e o andamento da política.
 
Agora, não vem mais ao caso a verdade. Seja qual for o fato, uma parte dos brasileiros acreditará nele, outra não, dependendo dele reforçar ou negar as crenças já firmadas. É exatamente o conceito da pós-verdade.
 
A delação da JBS entrega 1.829 políticos, de 28 dos 35 partidos existentes. Envolve todos os níveis do poder legislativo e executivo, além de centenas de empresas que prestam serviços a eles. Na gravação com Michel Temer, Joesley Batista sugere que comprou favores mesmo do poder judiciário.
 
Mas cada qual só acredita na parte das delações que lhe interessa. Se atingem os adversários, elas são boas. Se atingem os partidários, elas precisam de provas ou não passam de armação odiosa.
 
No Brasil de 2017, vivemos uma pós-realidade política, alicerçada em pós-verdades, alimentadas por um pós-jornalismo. E validada por uma pós-cidadania, vamos falar claro, sem paternalismo.
 
Porque só pode haver esse mundo pós-tudo na política quando as pessoas desistem de duvidar, com medo das consequências, e aferram-se ao conforto das convicções.
 
Enquanto isso, no mundo real das relações econômicas, que define o poder real sobre as instituições, as leis e a vida das pessoas, o que temos é destruição de direitos conquistados há décadas e a consolidação do Estado autoritário. É regressão intelectual e moral, em nome de uma democracia formal, vazia de substância.
 
Todos nós, seja qual for o lado que tivermos nas lutas em curso, podemos olhar para 2018 achando que encontraremos lá a salvação de alguma coisa. Mas, se houver 2018, será apenas uma eleição. Tão ilusória quanto tudo que vivemos agora.
Porque não há saída política para o Brasil fora da verdade, do juízo crítico e da consciência, por mais que tudo isso doa.
E aí? Quem vai encarar?

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