Comportamento

Alfabetização política em massa I


 
Por Ana Roxo
 
Se o problema é o analfabeto político, a gente vai começar um processo maciço de alfabetização política. Letra a letra, está bom? Vamos lá.
 
A de acorda. Se você não prestar atenção vão tirar os seus direitos. Não é o direito do outro. Não é o direito do cara lá, são os seus direitos. Para de ficar pautando as coisas: ai isso é coisa de comunista, isso é coisa de não sei o que… e o olha para situação como está. Acorda. Está certo ou está errado não é a questão agora. A questão é analisar racionalmente o que está sendo feito e lutar pelos direitos, pelos seus direitos, pelos direitos do povo.
 
B de balela. É balela que você individualmente ou um grupo de trabalhadores tem condições de negociar com patrão, com empresário, sem envolver uma luta maior de classes. É balela você achar que a sua negociação com o patrão é igualitária. Sendo que ele tem o seu emprego na mão. Cara, se as pessoas não conseguem negociar um dia de greve, elas vão negociar salário, férias. O que você está achando?
 
O que nos leva a letra C. Consciência de classe. Você pode achar uma bosta pertencer a essa classe, é ruim mesmo ser pobre. É ruim mesmo não ter direitos garantidos. Exatamente por isso que não é individualmente que você vai conseguir furar esse sistema, meu querido. Não é você individualmente que vai ascender e mudar de classe. É uma classe inteira se unindo e lutando por ter mais direitos. E lutando fim da desigualdade. E lutando pela justiça social.
 
Pequena observação: luta de classes existe. Não está superada.
 
D de demonização das pautas sociais. A gente está num momento que a economia e o mercado virou Deus e tudo o que diz respeito às pautas sócias, aos direitos do povo, do trabalhador, das minorias virou coisa de vândalo, coisa de vagabundo, coisa de arruaceiro, de baderneiro, virou coisa de gente que não tem o que fazer. Como se isso não fosse uma coisa mais importante do que comprar um tênis.
 
A mídia transforma tudo o que é pauta social em demônio. Ela demoniza essas causas em nome do cidadão de bem que fica comendo macarrão mole na frente da televisão.
 
Não coma macarrão mole. Não veja televisão. O D poderia ser também destruição desse sistema de mídia corrompido.
 
E de exceções só confirmam a regra. Uma ou duas pessoas que conseguiram furar a barreira de classes e ascender socialmente, economicamente e ficar rica, um negro que conseguiu ser juiz do Supremo, uma mulher que conseguiu adquirir fortuna e se libertar, só confirmam a regra de que a gente vive num sistema misógino, racista, injusto, desigual, preconceituoso, excludente. O fato dessas pessoas se destacarem confirmam a regra. Porque se isso fosse fácil de acontecer não teria destaque. Não te parece meio óbvio isso?
 
Essas são as cinco primeiras letrinhas pra você estudar. Semana que vem continuamos com o nosso alfabeto.
 
 

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  1. Avatar

    Ana: simplesmente MA-RA-VI-LHA! Um de seus melhores vídeos. Extremamente útil, linguagem clara e cotidiana. A ideia de fazer um alfabeto, seguindo algumas letrinhas por semana, sugere uma continuidade e desperta a curiosidade: “o que será que vem na próxima semana?” EXCELENTE!
    O que mais se escuta, nas ruas, nos cafés é: “Ah, eu já me aposentei!” Essa anta não consegue perceber que a maravilhosa aposentadoria que ela conseguiu, estará submetida à maldita PEC 55, ou seja, vai evaporar!
    Acho que a maior ameaça às pessoas, hoje, não é o Estado de Exceção. É o próprio umbigo; elas correm sério risco de serem tragadas pelo campo gravitacional do próprio umbigo. E se esquecem que, se elas têm um umbigo, é porque, um dia, existiu um outro na vida delas, um outro separado e diferente delas, e que elas só existem, hoje, por causa desse outro.

  2. Avatar

    Oi Ana, sou sua fã. Adoro seus vídeos, Além de compartilhar este, copiei por partes p texto e publiquei no facebook, com os devidos créditos é claro. Um grande abraço.

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