Mundo

Transfobia ou liberdade de expressão?


 

Víctor David López*

Faz uns dias tem circulado pelas ruas de Madri um ônibus da fundação ultra-católica Hazte Oír. Um ônibus transfóbico com uma mensagem contra a população transgênero, contra as crianças transgênero. Na mensagem estava escrito: “Os meninos têm pênis, as meninas têm vulva, não seja enganado”.

 
Bom, nem todo o mundo acha que a mensagem é transfóbica. Tem uma parte da população que acha que é liberdade de expressão. Na realidade o coletivo transgênero já foi perseguido ao longo dos anos, ao longo da história aqui na Espanha. O problema é grande, não é tão simples assim como falar da liberdade de expressão.
 
A liberdade de expressão tem limite? O ônibus da fundação ultra-católica Hazte Oír já foi interditado pela prefeitura de Madri mas só por causa da proibição da publicidade não autorizada em um veículo. Não por causa da mensagem, não por causa do crime, não por causa da transfobia. Eles mudaram a mensagem, mudaram duas ou três palavras e continuaram circulando pelas ruas de Madri, e agora também vão para Barcelona.
 
No domingo passado teve lugar uma manifestação da fundação Hazte Oír pela liberdade de expressão. A fundação ultra-católica levou pro centro de Madri quase 2.000 pessoas. Do outro lado da rua havia um grupo de manifestantes do coletivo LGTBI. Eles gritavam: “Não é expressão, é opressão”.
 
Essa fundação ultra-católica está aproveitando o auge da direita na Espanha e na Europa, o auge do conservadorismo. Inclusive eles estão entrando na Justiça contra aqueles que acusam a fundação de crimes de ódio.
 
Na manifestação do domingo teve algo mais. É engraçado que a polícia estava identificando os adolescentes do coletivo LGTBI, não estava identificando os manifestantes ultra-católicos que estavam provocando, que estão provocando o estado de direito na Espanha, não estavam identificando as provocações ultras e transfóbicas. A liberdade de expressão tem limite?
 

* Víctor David López (Valladolid, Espanha, 1979). Jornalista, editor literário e escritor. Colabora na Radio Nacional da Espanha e escreve no jornal El Español. Trabalhou nos jornais espanhóis As, Marca e La Razón. É co-diretor da editora madrilena Ediciones Ambulantes, especializada em literatura brasileira e sobre o Brasil. É autor dos livros “Maracanã, territorio sagrado” (2014), “Brasil salta a la cancha” (prólogo) (2016) y “Brasil, Golpe de 2016” (prólogo). Twitter: @VictorDavLopez

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  1. Avatar
    CARLOS ANTONIO DA SILVA says:

    Saint-Exupéry disse que somos responsáveis por tudo aquilo que cativamos. Esta frase deve ser acrescida de: “somos responsáveis por todas as energias positivas ou negativas e sentimentos que espalhamos em nosso caminho. Estamos atravessando um momento muito delicado, perigoso e altamente negativo. Não podemos deixar nos levar pelo ódio, desânimo e falta de esperança. Não se combate aquilo, que achamos errado, com intolerância. O bem é incompatível com o radicalismo e a mentira.
    Definitivamente o fim não justificam os meios. Não se deixe influenciar pelo mal, pelo desamor e pelas ondas de derrotismo. Lutar pelos nossos ideais não significa aniquilar os que pensam diferente. Pense, reflita antes de disseminar o ódio/preconceito e qualquer outro tipo… Não alimente o ódio e a intolerância, afinal estamos juntos no mesmo barco. Policie-se se não pode construir, não ajude a destruir. O momento é de reflexão e de amor, pois estamos inundados de energia e sentimentos negativos.

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