Comportamento

Mais outra coisinha só, sobre o capitalismo.


 
 
Continuando a nossa série: as aventuras do capitalismo. Hoje nós vamos falar sobre o poder de fagocitação do capitalismo. O que é fagocitar? Você lembra da ameba? Que ela ia andando fazendo urrr engolia a coisa, a coisa virava parte da ameba. O capitalismo é uma ameba. Uma ameba de fagocita outros sistemas, outros meios de vida. E fagocita também as lutas sociais. Um bom exemplo disso é o feminismo como nicho de mercado. É a Globo feminista. Comunidade LGBT como nicho de mercado. Os produtos LGBT que a gente tem. A gente tem o mercado e a gente tem uma demanda. E a gente tem um público gay que tem dinheiro, que vai comprar coisas. Ele não faz isso porque ele é bonzinho. Não tem bondade. Não tem: ai, finalmente eles perceberam. Não, tem mercado.
Então, aparentemente isso é uma coisa boa. Você fala: ah é bom a Globo falar de feminismo, porque tem alguns lugares que só a Globo chega. Então, pelo menos estão falando de feminismo. Sim, mas motivos errados. Aí você fala: ah mas é melhor do que nada, né? Mas melhor do que nada não é tudo. Não é um grande avanço a Avon fazer produtos para homens. É simplesmente: dobra o mercado dela. Dobra o potencial de venda. É um monte de gente usando base. É tudo que a Avon quer. Quando a gente vê essas minorias tendo uma representatividade ou tendo produtos feitos pra elas. Você fala: ah é um avanço.
Em si é um avanço. A questão é que o fundo disso é um silenciamento da demanda e da questão porque a globo já está falando disso. Ah, não precisa ser tão assim porque a Globo já está abrindo, olha só. Eu não sei o quanto isso andou com a igualdade de fato. Eu não sei quantos negros deixaram de ser espancados com isso. Eu não sei quantas lésbicas podem andar de mão dada com isso. Eu não sei o quanto isso pasteuriza as questões num padrão capitalista de consumo, de estética que a curto prazo parece um avanço mas a longo prazo pode ser um retrocesso. É silenciamento. Você coloca uns panos quentes: ah vamos falar disso aqui porque daí eles ficam mais quietinhos, porque a gente já está abrindo um pouquinho mas o mundo ainda é dos homens brancos.
O mecanismo do capitalismo se torna inclusive difícil de ser detectado e ele se torna muito hegemônico por causa da capacidade que ele tem de transformação de colocar para dentro qualquer coisa que pode ser quebra da sua estrutura. Então ele vai lá e pega aquele negócio que pode quebrar ele e torna parte da cultura, torna parte do sistema e vira mercadoria.
Capitalismo é o Midas que encosta em tudo e transforma em mercadoria. Qualquer tipo de subversão dele ele transforma na versão dele. Muitas pessoas estão me perguntando qual é a saída. E de fato eu sei que apresento muitos problemas e poucas soluções. É porque eu não sei mesmo. Não é porque eu não tenho solução que a gente não tem que apontar as críticas. Porque se a gente não falar das críticas a gente não vai ver solução. A gente não vai ver problema, pra ter solução tem que ter problema, né?

Notícias relacionadas

  1. Avatar
    Leonardo Leão says:

    Já estou cansado das mesmas respostas para as mesmas perguntas. As pessoas são treinadas para dar respostas e não fazer perguntas!
    Esta, talvez, seja a grande saída: temos, enquanto humanidade, outra viabilidade neste planeta fora da solidariedade?
    Não é solidário passar fome.
    A partir desse óbvio deveriam seguir nossos devaneios sistêmicos. O que está posto nos conduz ao extermínio. Ou, como disse D. Hélder ao jovem em êxtase, “a paz não é um caminho, a paz é o caminho”.

  2. Avatar

    Não existe uma solução para as distorções e aberrações do capitalismo, o que pode ser feito é uma domesticação e controle pelo estado e sociedade civil, tal como os países escandinavos desempenham.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *