Comportamento

Só mais uma coisinha sobre o capitalismo.


 
 
Eu percebo que a gente está imerso numa lógica que é muito perversa. Uma lógica muito binária. Porque quando você fala não ao capitalismo, vem: ah mas então o que você quer? Um Estado inchado. Essa não é a única alternativa. A gente não pode toda hora ficar olhando só para as experiências que aconteceram como alternativas. A gente não consegue construir um mundo novo com isso. Uma fala que pauta um mundo novo é utópica? É utópica, mas eu não considero isso um xingamento. Considero isso um elogio. Se a gente não for fazer uma pauta utópica, se a gente não for falar sobre melhoria do mundo, se a gente não for falar sobre as pessoas serem iguais, vocês querem que eu fale sobre o que? Que o Caetano estacionou o carro.
Tem um pânico que se instaura dentro da estrutura do nosso pensamento capitalista que é quando a gente fala de acesso livre e democrático a todos. O primeiro pânico que vem é: nossa mas se todo mundo tiver tudo o que vai acontecer? O pânico que se tem quando a gente fala em acesso livre é resumido por um ditado popular que é: quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Se todo mundo puder entrar na universidade, se todo mundo puder comer caviar, o que vai acontecer? Vai acontecer que algumas pessoas vão entrar na universidade outras não. Outras pessoas vão comer caviar e outras não. Porque isso não vai ser pautado pelo valor de status ou o valor monetário que tem. O sistema capitalista valora umas coisas mais altas do que outras.
Então a diferença de pagamento, a diferença de condição de vida de alguém que está na Universidade e de alguém que limpa a casa no capitalismo de terceiro mundo é muito gritante. Então, as vezes, uma pessoa vai fazer universidade não é porque ela está interessada numa vida acadêmica só. É porque ela vai ganhar mais do que se ela for uma empregada doméstica. Uma historinha mais simples que eu poderia contar pra explicar isso é: uma criança que nunca comeu sorvete, a primeira que ela vai numa sorveteria ela vai comer sorvete até passar mal. Depois a sorveteria vira uma coisa meio comum, ela vai entender que ela gosta desse sorvete, não gosta do outro. Ela vai conseguir ser comedida.
Tem um paradoxo muito grande numa fala liberal, capitalista que prega que o capitalismo pleno numa sociedade liberal cada pessoa individualmente pode exercer aquilo que ela sonhou. Isso não é verdade. Isso só é possível numa sociedade onde todos tenham a opção de ser tudo. E a gente só tem uma sociedade onde todas as pessoas têm a opção de ser tudo se a gente tem uma sociedade igualitária que não é possível no capitalismo. As únicas pessoas que têm opção de experimentar diversos tipos de sorvete pra saber de que sorvete gosta, são pessoas de uma classe específica, que é a rica. Considerando todas as opressões e explorações que eu sofro, o que eu desejo ser e o que eu consigo ser está muito distante. Se a gente democratizar, a gente consegue equilibrar um pouco essa balança. Se todos os trabalhos forem igualmente valorizados, a gente não tem mais essa dicotomia.
A possibilidade de liberdade individual pra cada um ser o que realmente deseja ser, que o capitalismo prega tanto, só é possível com o acesso livre. Agora a gente pensa assim: nossa, mas se eu tiver iates eu vou… Você pode descobrir que não gosta de navegar. Você pode descobrir que aquilo não é pra você, que aquilo você não quer. E se a gente coletiviza as produções a gente vai poder escolher aquilo que deve ser produzido, aquilo que é pro bem de todos. Única possibilidade de emancipação de todos os seres humanos, é a emancipação de todos os seres humanos e não de apenas alguns que possuem recursos.
Eu fico muito espantada como o discurso capitalista prega que as pessoas têm que ser de um jeito que não é possível dentro do sistema. Tanto que sistema não consegue nem que você pense fora da caixa, que é fora do próprio sistema. Só que tudo que se diz pra se dar bem no capitalismo é: pense fora da caixa. Você não consegue pensar nem que outro tipo de mundo a gente pode ter o capitalismo, quer pensar fora da caixa. Você apela pra experiência soviética, pra China, pra Coréia do Norte como se a gente estivesse pautando isso. Como se essas experiências tivesse sido fora do capitalismo e não foram, como as únicas opções do mundo é o que o homem já viveu. Como se não tivesse uma história a ser construída. Você entendeu agora? Senão eu faço outro vídeo, não tem problema. Faço um vídeo por semana explicando com outras palavras a mesma coisa, tá? Eu tenho muita paciência.

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