Recente bombardeio do governo nigeriano, por engano, a um acampamento de refugiados nesse país, faz pensar, normalmente, na crise dos refugiados na África.
Ainda que tenha estado um pouco na sombra da crise europeia porque a mídia se concentrou no Velho Continente, esta, do continente africano, é muito mais complexa.
Segundo cifras da Organização das Nações Unidas para os refugiados, 86% dos refugiados do mundo se encontram em países em vias de desenvolvimento, e nesse caso, a África tem vivido uma situação especialmente complexa.
Pensemos somente, por exemplo, na guerra na República Democrática do Congo, na crise interna da Somália, Sudão do Sul, na República Centro Africana ou precisamente na situação que vive a Nigéria com o terrorismo.
Pois em todas essas situações há refugiados. Segundo números da ACNUR são mais de quinze milhões de pessoas. Quinze milhões de pessoas.
A maioria deles foram para países como Quênia, Ruanda e Etiópia, que são os maiores receptores de refugiados na África. Alguém crê que essa nações, que já têm problemas, poderão oferecer serviços de saúde, educação, alimento e emprego a toda essa gente? Que poderá acontecer com os refugiados? Às vezes passam anos e anos sem poder trabalhar legalmente.
E há outro detalhe: a maioria dos acampamentos são pensados, pelo menos em teoria, para acolhimento em estadias curtas, e os conflitos na África que mencionei antes são conflitos de longa data. São pessoas fugindo da fome e também fugindo da guerra.
Ainda que a mídia ocidental, muito da mídia ocidental insista em apresentar a narrativa de que na África todos são como empresários, todos são empreendedores muito bem sucedidos, existe ainda a fome, e existe ainda a guerra que faz se deslocarem milhões de pessoas neste continente.
Uma reportagem publicada em The Guardian afirma que de 17 milhões de pessoas refugiadas da África, 93,7% ficaram no continente, enquanto que só 3% chegaram à costa da Europa.
Ou seja, quando você ler que a crise de refugiados é uma crise europeia, pense que desse outro lado do planeta há milhões de seres humanos que continuam refugiados, e ao que parece, também, esquecidos pelo mundo.
