Se for ao 2º turno com Marine Le Pen, Mélenchon será o próximo presidente da França

Pela primeira vez a França chega a uma eleição presidencial com a opinião pública tão fragmentada. Os partidos tradicionais estão em franca decadência e todas as pesquisas dizem que se chegar ao segundo turno com a ultra-direitista Marine Le Pen, o líder das esquerdas Jean-Luc Mélenchon será o novo presidente da França.

 

 

Por Christophe Ventura, de Paris

Bem-vindos à França a todas e todos, para estes últimos dias de campanha presidencial.

Fazemos esta crônica, o primeiro turno acontecerá em dois dias, e muitas coisas ocorreram durante esta campanha louca, podemos dizer, temos que admiti-lo. Onde ocorreram muitas coisas que não foram previstas por ninguém, claramente.

Temos uma situação que confirma uma crise estrutural do sistema político aqui na França. Uma crise principalmente dos partidos políticos tradicionais, que estão vivendo suas últimas horas, talvez, na França. E a constituição de novos atores, de novos sujeitos políticos, que terão que competir nesta eleição e que terão que se fortalecer para se construírem como forças a longo prazo para o futuro aqui na França.

Temos quatro candidatos que estão muito próximos uns dos outros: Marine Le Pen, da Frente Nacional, Emmanuel Macron, ex-Ministro de François Hollande, que com seu movimento de centro, ultra-centro. Temos também François Fillon, da direita tradicional, que volta pouco a pouco às pesquisas, e Jean-Luc Mélenchon, que foi a grande surpresa dessa eleição. Em quase um mês sua força se multiplicou por dois e agora está em posição, ele também, de poder assumir uma vitória nesse primeiro turno, para que a esquerda autêntica participe da final da eleição.

Estes quatro candidatos estão muito próximos. Estamos numa situação de imprevisibilidade, esta é a palavra-chave neste momento. E ninguém pode dizer o que irá nascer dessa imprevisibilidade. É impossível dizer o que vai acontecer. Os parâmetros aqui na França nos levam a pensar que tudo pode acontecer, tudo em qualquer sentido.

Podemos ter uma situação em que as forças antissistema, e falo aqui de Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon, poderiam verdadeiramente estar na final. Poderíamos também ter uma final com Fillon/Le Pen ou Macron/Le Pen. Estes são os três cenários, os mais prováveis, mas o digo com prudência porque é imprevisível.

O que vamos reafirmar aqui é o que fez Jean-Luc Mélenchon. Não importa o que vai ocorrer no final, mas a dinâmica de Jean-Luc Mélenchon abre uma nova era, uma nova época política, um novo período político no país.

É o início de uma nova construção profunda da corrente progressista de esquerda, de transformação social, desta corrente que nasce aqui na França com a revolução francesa, mas também com a tradição do socialismo revolucionário que está se reconstruindo e que está superando a social democracia.

Isto é um feito fundamental, porque abre uma vantagem para a reconstrução de uma nova força de longo prazo no nosso país. E Jean-Luc Mélenchon acabará assim se posicionando com uma responsabilidade muito grande para fazer nascer no nosso país uma esquerda forte, com capacidade de governar e de ter posições muito fortes na sociedade, dentro da sociedade, com os sindicatos, os movimentos populares, os movimentos sociais, uma certa intelectualidade progressista também. E tudo isso se reconstruiu, se reconectou através da France Insoumise e do movimento lançado por Jean-Luc Mélenchon.

E pela primeira vez na história esse movimento tem capacidade de ganhar, porque está muito claro que se Mélenchon ficar no segundo turno, ganhará a eleição, ganharia, todas as pesquisas nos dizem, contra a extrema direita de Marine Le Pen. Este seria o cenário.

Então, estamos nessa situação. Eu quero acrescentar que hoje é um dia especial, porque ocorreu ontem à noite um novo ataque reivindicado pelo Estado Islâmico, e que o Estado Islâmico o fez claramente num momento preciso do fim da campanha para criar um clima de medo na sociedade e para reforçar seus candidatos. Porque os islâmicos têm aqui dois candidatos claros, o primeiro é Marine Le Pen e o segundo é François Fillon.

Eles querem que ganhem aqui na França candidatos duros, com interesses muito duros com os muçulmanos, com os imigrantes, para afinal fortalecer as divisões no nosso país e a vitimização das minorias árabes e também muçulmanas aqui na França.

E não devemos cair nessa armadilha, porque agora todos os republicanos verdadeiros, os democratas e os progressistas vão se unir para impedir essa vitória dos candidatos reacionários, que afinal são os sabidos objetivos do Estado Islâmico aqui na França.

Também porque esse elemento será julgado nos próximos dias e veremos nesse domingo se influenciaria nos resultados dessa eleição.

São os elementos que temos hoje, um pouco antes da eleição, mas o que vai acontecer na França será inédito em sua história contemporânea e o que vamos ver no futuro será muito, muito diferente do que havia até agora.

Tchau, veremos que aconteceu depois do primeiro turno dessa eleição presidencial.

Um comentário

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Marisa

22/04/2017 - 12h35

Com a disseminação de ações conservadoras e truculentas da direita, a exemplo de Brasil, Venezuela e Argentina, torço para que essa esquerda ‘autêntica’ se faça vitoriosa e sirva de exemplo principalmente para o meu país. Saudações.

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