Leslie Salgado comenta o papel das agências de risco e a decisão dos BRICS de acelerar a criação de sua própria agência.
"Esperemos então que aconteça esta decisão dos BRICS, mas nos lembremos sempre, tenhamos em conta que, como diria um grande economista, a economia também é um argumento político.”
Por Nocaute em 17 de outubro às 20h28
Acaba de concluir na Índia, na cidade de Goa, o encontro dos BRICS, bloco que integra a Índia, Brasil, Rússia, China e África do Sul.
E na declaração final há vários temas muito importantes. Mas há um sobre o qual quero chamar a atenção, porque é muito provável que passe “despercebido” ao olhar da grande mídia. É o tema das Agências Classificadoras de Riscos. Na declaração final aparece a decisão dos países que integram o bloco, de acelerar o estabelecimento de uma agência própria dos BRICS. E este é um tema muito importante, pelo seguinte: Porque as Agências Classificadoras de Riscos mais importantes do mundo são três: Standard & Poors, Moody´s e Fitch, todas americanas, estão nos Estados Unidos, e que controlam entre 90 e 95% do mercado mundial.
E que fazem estas agências? Estas agências qualificam as economias dos países, dando-lhes nota de AAA até a incapacidade default . E dependendo desta nota os investidores decidem ou não investir num país. E há também outro problema – se um país tem uma má nota, uma nota baixa, os juros para conseguir financiamentos no mercado, ou seja, nas entidades financeiras internacionais, são muito altos. E, portanto, a capacidade de pagar diminui e é como um círculo vicioso do qual é muito difícil sair.
Muitos têm dito e não sem razão, que as qualificações das Agências Classificadoras de Riscos são um instrumento político. Vemos por exemplo o caso da Bolívia. Desde que o presidente Evo Morales nacionalizou setores muito importantes da economia desse país, a Bolívia tem um CCC, uma das notas mais baixas.
Também foi usado como argumento contra a presidenta Dilma Rousseff e quando a Criméia se reunificou com a Rússia, pois simplesmente uma dessas agência baixou completamente a qualificação da Criméia. O povo da Criméia respondeu, reclamou, e a qualificação voltou a ser restituída.
Bom, estas agências classificadoras de riscos, erram seus julgamentos já há algum tempo, claro, não com esses casos que mencionei, mas com casos de grandes países, como aconteceu agora com o Reino Unido. Aconteceu também em 2008 com o caso do banco americano Lehman Brothers, que tinha a mais alta qualificação.
Sem dúvida isso trouxe à luz a raiz da crise financeira internacional de 2008 – que os ativos eram lixo e que o banco quebrou. A raiz é isso, ou seja um escândalo das Agências Classificadoras de Riscos. Sem dúvida, há que prestar atenção, pois os julgamentos não são tão imparciais como muitos acreditam que são.
Por isso, esta notícia de que os BRICS decidiram acelerar a criação de sua agência própria é muito importante.
Sem dúvida, há vários temas aqui também para se analisar. Alguns especialistas acreditam que, como essas agências seriam, as agências dos BRICS, seriam agências dos governos, não teriam a mesma credibilidade, a mesma “confiabilidade” que supostamente têm as três grandes agências, o oligopólio americano das Agências Classificadoras de Riscos.
Este é um assunto importante para as economias não só dos países que integram os BRICS, como também de outros mercados emergentes, porque uma das grandes críticas que se faz é que a qualificação, a avaliação, foi feita num país desenvolvido e não nas economias de um país emergente, que funciona de maneira distinta. E, um dos temas que se comentam, esta agência dos BRICS pode decidir empregar uma metodologia diferente, que se adapte aos mercados emergentes.
Esperemos então que aconteça esta decisão dos BRICS, mas nos lembremos sempre, tenhamos em conta que, como diria um grande economista, “ a economia também é um argumento político.”
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