A Guerra Fria ainda ecoa nos corredores da Casa Branca

Trump chegou à presidência falando que iria romper com as políticas tradicionais de Washington. Mas, pelo visto, optou por voltar às políticas fracassadas de 50 anos atrás.


 

Trump acaba de anunciar a nova política do governo dos Estados Unidos para Cuba. Após mais de cinco meses de escrutínio, as mudanças propostas revertem alguns dos avanços conquistados pelos cubanos durante os anos Obama, especialmente aqueles relacionados ao turismo. Reavivando a lógica da Guerra Fria, a nova administração pretende asfixiar o setor mais dinâmico da economia de Cuba, reforçando o bloqueio que já dura mais de meio século. Muito simbolicamente, o anúncio foi feito em um teatro no coração da Pequena Havana, em Miami, batizado de Manuel Artime em homenagem a um dos líderes da invasão de Playa Girón.

A mudança na política implementada por Obama foi uma promessa de campanha de Trump, mas estava mais ou menos engavetada desde que ele assumiu, e foi retomada devido às pressões dos congressistas cubano-americanos, em especial Marco Rubio e Mario Diaz-Balart.

Na prática, pouca coisa muda: o reestabelecimento das relações diplomáticas e o fim da política dos “pés molhados, pés secos” não serão alterados. As restrições de viagens à Cuba voltam a endurecer, mas seguem permitidas. Empresas e cidadãos estadunidenses ficam proibidos de fazer negócios com as autoridades militares cubanas, mas gastos relacionados às operações do governo dos EUA na ilha, como a manutenção de Guantánamo por exemplo, serão mantidos. Por outro lado, a nova política segue a tendência que vem sendo aplicada nas relações com a Venezuela, de sancionar determinados indivíduos do alto escalão do governo para forçar um crescente isolamento no cenário internacional.

Além das mudanças no sistema econômico e político cubano, os Estados Unidos agora colocam a extradição de Assata Shakur, a ativista dos Panteras Negras que vive há mais de trinta anos em Cuba, como um dos requisitos para avançar nas negociações.

A decisão já desperta críticas. Washington Post, por exemplo, avalia que, ao reverter as políticas da era Obama, que permitiram um maior investimento empresarial privado em Cuba, Trump estaria de certa forma favorecendo seu próprio conglomerado imobiliário.

Trump chegou à presidência falando que iria romper com as políticas tradicionais de Washington. Mas, pelo visto, optou por voltar às políticas fracassadas de 50 anos atrás.

Veja também:

Cuba é cortina de fumaça. O alvo é a Venezuela.

Um comentário

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José Eduardo Garcia de Souza

18/06/2017 - 05h03

Pelo que entendi da coisa, Trump pediu um “Diretas Já!” em Cuba, da mesma forma que a oposição venezuelana o pede naquele país. Talvez a brilhantíssima e competentíssima Aline Piva nos possa esclarecer sobre os porquês de tamanha rejeição a “Diretas Já!” em Cuba e na Venezuela, na medida em que advoga o mesmo para o Brasil – será apenas por uma questão linguística ou de eufonia? Aguardo ansioso. Obrigado.

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