BocaLivre: você é brega ou chique? Tartufo ou pequi?

Quer parecer esnobe? Esqueça o empório Santa Luzia. O must agora é o mercadão municipal.

 

Em música popular brega é brega e chique são várias coisas, como jazz, bossa-nova etc. Isso não há dúvida. Agora em gastronomia as coisas não assim fixas. Brega pode virar chique, chique pode virar brega. Então, como exemplo nós temos aqui um óleo com essência de tartufo bianco d’alba, um fungo italiano, muito apreciado na gastronomia porque tem um cheiro muito próprio, pra alguns ele lembra gás, por exemplo. E isto aqui é algo que remete a esse fungo, e hoje isso tem um valor enorme, algo em torno de seis mil euros o quilo. É tanto dinheiro que os chineses já estão fazendo também.

 

Esse óleo é exatamente para as pessoas que nunca tiveram contato com esse fungo, com essa coisa extraordinária que é o tratufo bianco d’alba. As pessoas que nunca puderam comer isso porque também ele é muito perecível, você tem aqui no Brasil nos restaurantes mais caros apenas, na época que é outubro, novembro. E fora isso temos esses óleos que remotamente lembram essa magia do tartufo. E que hoje são usados em saladas e tal. Você pode encontrar em alguns restaurantes um pouco mais metido a bestas que no seu executivo usam esse óleo. E exatamente porque remete uma coisa sem ser, é que se tornou brega na gastronomia. Isso é um produto brega. Vamos deixar de lado. Isso aqui é um óleo de pequi.

 

Pequi é um alimento do centro-oeste, mais ligado ao público da música sertaneja do que qualquer outra coisa. Mas, além dessa característica sua nativa, ele era considerado brega, desprezível, por muito tempo. Hoje você encontra isso nos restaurantes de alta gastronomia. Hoje ficou chique. Então, o chique ficou brega e o brega ficou chique. Essa mudança de posição dos mesmo produtos na escala de valores da gastronomia é que é o mistério da gastronomia. Na medida que você é alguém que não quer ser brega, você pode se por a campo pra procurar encontrar o pequi. Agora já começa a época de coleta de pequi que vai até fevereiro mais ou menos. Você pode encontrar em Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais ou mesmo na região do Mercado Central de São Paulo. Ali em volta tem alguns vendedores com carrinho que vendem o Pequi. Então, são coisas como essas que nós vamos tratar nessa sessão do Nocaute. Essas ambiguidades, esses trânsitos que a gastronomia favorece.

3 Comentários

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Claudio Guedes

12/10/2016 - 17h51

Beleza de matéria!

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Marie France Henry

08/10/2016 - 20h20

Pois é, coisas tão distantes quanto salmão e petit gâteau de chocolate são exemplos deste fenômeno que nos faz transitar do chique ao brega na área da gastronomia.
Acho que este caminho tem forte influência da “grana que ergue e destrói coisas …..”.
Salmão é chique quando é caro, é brega quando é barato.
Aliás salmão e tantos outros peixes estão ficando cada vêz mais podres, Dória!
Adorei o video que voce compartilhou no Face.

Acho que eu aqui poderia fazer uma longa lista de coisas que só vão virar brega se ficarem baratas.

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nina Horta

07/10/2016 - 19h48

Sempre achei esse tipo de produto, brega, no primeiro dia que vi, não foi necessário muito aprendizado, tava no sangue. E um bom pequi sempre senti como uma jóia. Acho que não é o produto, né, somos nós, que às vezes, influenciados, nor tornamos bregas. Difícil encontrar aquele que nunca escorregou no tapete, a gente sempre tem uma breguice no fundo do coração. A minha é gostar tanto de um bregucho como vc. Seu uísque tá aqui.

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