O neoliberalismo é o nosso aquário. Dá um pulinho fora dele.
A gente vai fazer uma distinção entre o que é natural e o que é naturalizado. Natural num ser humano são as coisas que nascem naturalmente com ele. No entanto, o ser humano não é um ser natural. Ele é um ser social, um ser cultural, um ser político.
Por Ana Roxo em 29 de abril às 14h16
Por Ana Roxo
A gente vai fazer uma distinção entre o que é natural e o que é naturalizado. Natural num ser humano são as coisas que nascem naturalmente com ele. Essencial, intrínseco, estou usando palavras difíceis hoje. Intrínseco que é próprio da essência, é essencial. No entanto, o ser humano não é um ser natural. Ele é um ser social, um ser cultural, um ser político.
Como que a gente fala de coisas que são naturais quando a gente não tem mais além do que é essencial, biológico, como necessidade de comer, de se reproduzir, de respirar, como a gente pode falar de coisas naturais? Como a gente pode ouvir frases como: é natural a desigualdade. Ou, o papel da mulher na casa é natural. Como a gente pode falar disso?
Então, a gente tem que começar a diferenciar o que é natural e o que é naturalizado por uma cultura e por uma ideologia. Porque isso tudo é ideologia. Lembra que a gente tem mania de chamar ideologia só o que é dos outros, mas a gente está imerso numa ideologia. E todas essas ideologias acabam naturalizando desigualdades, naturalizando preconceitos, naturalizando discrepâncias de convívio e de conduta.
Acabam dificultando a transformação dessas condutas, porque tem o argumento de que isso é natural. Isso sempre foi assim. Sempre existiu ricos e pobres. Isso é natural. Não, não é natural. Isso é social, isso é cultural, isso é ideológico.
Se o ser humano é criado numa cultura machista, competitiva, desigual, ele vai naturalizar isso. Porque isso é a experiência que ele tem do mundo.
Um peixe que está no aquário, ele acha que o aquário é o mar. Ele não sabe que ele está num aquário, ele tem que pular para fora do aquário, ele tem que se arriscar a olhar e ver olha eu estou no aquário. Essa é a jogada difícil da conscientização política ou cultural ou de sair de uma cegueira de um racismo, de uma cegueira de privilégio.
Você tem que ver porque você está num aquário e sair do aquário é muito difícil.
O neoliberalismo é o nosso aquário. Dá um pulinho fora dele. Tem um mar tão lindo lá fora. Um mar de possibilidades para fora disso.
A gente precisa começar a enxergar para fora do aquário.
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Clá
01/05/2017 - 13h49
Ana: muito legal a distinção entre “natural” e “naturalizado”. Legal, também, a figura do peixinho e do aquário. Talvez, fosse interessante explorar um pouco mais a ideia de que, no aquário, estão peixinhos vermelho-mortadela e peixinhos azuis-coxinha e que, portanto, TODOS seremos atingidos pelas medidas neoliberais.
Leonardo Leão
30/04/2017 - 09h25
Aquário
Para Ana Roxo
Leonardo Leão
Com fim nado
limite
ou como
brioches:
sem início nada
vinga
ou bebo
circos:
humano,
minha natureza
é somos.
Recife, 30 de abril de 2017