Zé Dirceu relembra 1968
o ano que incendiou o mundo.

Na vídeo-coluna de hoje, o ex-ministro José Dirceu presta homenagem à geração de 68 e destaca as mesmas velhas táticas da direita antidemocrática da época e a de hoje: “Querem falsear o sistema político eleitoral, tirando o povo da decisão com o semiparlamentarismo." Com esta coluna de Dirceu, Nocaute inicia sua cobertura especial do cinquentenário do ano de 1968.

 

Olá, meus amigos e minhas amigas do Nocaute. Hoje eu quero prestar homenagem à geração de 68 que lutou contra a ditadura militar.

 

Os militares tomaram o poder, rasgaram a Constituição. Demitiram sete mil oficiais das Forças Armadas. Eram homens democratas, nacionalistas, progressistas. Expulsaram do serviço público dezenas de milhares de brasileiros e brasileiras. Fecharam catorze mil sindicatos, ligas camponesas, sindicatos urbanos e rurais. Reprimiram toda a oposição a ferro e a fogo. Inclusive, a oposição chamada liberal, burguesa, os políticos tradicionais, como o Jânio, como o Lacerda, Magalhães Pinto.

Impuseram a censura. Liquidaram com os partidos políticos. Puseram fim à eleição direta para presidente, governadores e prefeitos das capitais e as chamadas áreas de segurança nacional.

 

Era a ditadura, crua. Os estudantes se levantaram contra a ditadura. Em 65, ao chegar à Faculdade, eu encontrei o Centro Acadêmico fechado, até a Associação Atlética estava fechada. Era proibido fazer cineclube, teatro, feiras de livro.

 

Era um silêncio. Era a ditadura. Não havia liberdade. Nós estudantes nos levantamos contra a ditadura. Defendemos o direito de existir dos Centros Acadêmicos, da nossa organização civil, livre, democrática, eleita pelos estudantes, sustentada pela venda de carteirinhas de estudantes.

 

E fomos às ruas. Não aceitamos a proibição que a ditadura impôs à manifestação. Pelo contrário, defendemos a livre manifestação, a livre organização e o direito de protestar.

 

Enfrentamos a ditadura. Recebemos apoio de intelectuais, artistas, jornalistas, servidores públicos, de amplos setores da sociedade. Inclusive dos sindicatos que começavam a se reorganizar.

 

Foram anos de intensa luta e de grandes mudanças no Brasil. A geração de 68 fez uma verdadeira revolução social, de comportamento, costumes, cultural. Foi a música popular brasileira, o cinema novo, o teatro de vanguarda, era a nova literatura, uma nova forma de se expressar, era o direito à igualdade às mulheres.

Igualdade conosco, nas lutas, nas lideranças. O direito delas de decidirem o seu destino. O destino do seu corpo, o destino do seu futuro.

 

Era a geração de 68 no Brasil e no mundo lutando contra o autoritarismo. Mas havia a luta contra a ditadura, contra a privatização do ensino, contra a elitização do ensino.

 

Infelizmente, hoje, 80% dos estudantes universitários pagam para estudar. Caso único no mundo. E agora querem avançar sobre o ensino médio, sobre o chamado segundo grau. Privatizar, privatizar, é a palavra de ordem.

 

A geração de 68 se uniu aos operários quando ocuparam as fábricas em Osasco e Contagem. Os militares não podiam tolerar. Impuseram ao país o Ato Institucional 5, até porque reprimiu a toda e qualquer oposição, inclusive censurando a imprensa. E quando brasileiros e brasileiras se levantaram em armas contra o regime, ele deu um basta e fechou totalmente o sistema político do país.

 

Foi a época do silêncio, do medo. Mas por pouco tempo. Em 1973 voltavam as greves. Em 1974 a ditadura foi derrotada nas urnas. Em 1976, 1977 os estudantes voltaram a ocupar as ruas do país e a UNE foi reconstruída em 1979.

 

Em 1977, as greves no ABC, pela primeira vez, ouviram uma voz rouca gritar contra a ditadura. Era Lula que surgia.

 

Porque o povo se levantou apesar da repressão? Porque o modelo econômico da ditadura trouxe a carestia, a favelização. Porque houve uma corrida para as grandes cidades em busca de empregos e não havia investimento em saneamento, habitação, transporte, creches, em saúde.

 

E o povo começou a lutar nos bairros e periferias contra a carestia. Por creches, por melhores transportes, pelo saneamento, pelo direito à habitação. E nas fábricas, os trabalhadores, frente ao arrocho salarial e a manipulação da inflação cometida pela ditadura, se levantaram também em greves, em ocupações, em lutas.

 

Em 1978, a ditadura já perderia a eleição. Mas o que fazia a ditadura? Ia mudando o sistema eleitoral. Criou o senador biônico. Criou restrições a propaganda eleitoral. Criou inelegibilidades, criou domicílio eleitoral. Fez tudo para afastar o povo das urnas. De nada adiantou. Cresceu a luta pela Anistia, cresceu a luta contra a ditadura. E nós conquistamos a democracia e a Constituição de 1988.

 

A geração de 68 deixou a sua marca, deixou o seu exemplo. Muitos, inclusive, deram a vida pela liberdade e pela democracia.

 

Hoje, vivemos novamente um golpe e o crescimento do autoritarismo, a volta do preconceito, da censura, a volta da intolerância. O uso da violência na disputa política e principalmente o golpe parlamentar judicial que derrubou uma presidente legítima, eleita por 54 milhões de brasileiros.

 

Mas a política econômica que estão adotando no Brasil também está sendo repudiado pelo povo. Como eles não têm voto, como a ditadura não tinha, querem banir Lula das urnas. E querem falsear o sistema político eleitoral, tirando o povo da decisão com o semiparlamentarismo.

 

E agora autorizam que os candidatos ricos possam financiar suas campanhas. É o dinheiro comandando as eleições. Tudo isso para impedir que a esquerda, os democratas, os nacionalistas, vençam as eleições, que Lula possa ser candidato.

 

Essa luta vai continuar. Ela foi vitoriosa no passado, apesar da repressão. E será vitoriosa novamente. Vamos à luta.

5 Comentários

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jliberato

16/02/2018 - 14h17

Magalhães Pinto?!!!

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JOEL DE OLIVEIRA

15/02/2018 - 15h58

Admirável!!!

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vilma amaro

15/02/2018 - 11h20

Ditadura do Judiciário de direita, juízes que legislam em causa própria com auxilio moradia e outras benesses, que se acham investido de poderes com direito a extraordinários e o povo continua escravo como disse bem a Tuiuti.
Prisão do irmão de Zé Dirceu, ameaça de tirar a casinha da mãe de Zé Dirceu, quantas barbaridades , tudo para quebrar a resistência do nosso herói de 68 e de todos os tempos, o Zé Dirceu.Não bastam discursos de que a história dirá quem estava certo, é preciso agir.Muitas ações estão sendo feitas, mas é necessário unificar e está aí uma tarefa hercúlea.
Soberania nacional na lata do lixo, Petrobras, construção civil, indústria naval destroçadas pela lava-jato,que tem parceria com o FBI.Vamos à luta pela democracia, contra a prisão de Lula, contra a feroz perseguição ao Zé Dirceu e outros companheiros, contra a venda do país pelo governo usurpador.

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C.Poivre

14/02/2018 - 22h45

As mentiras da mídia sobre a Venezuela, patrocinadas pelos EUA:

https://noticia-final.blogspot.com.br/2018/02/as-mentiras-da-midia-sobre-venezuela.html

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Ana Maria Leitão Vieira

14/02/2018 - 21h49

Fico emocionada em ver e ouvir nosso comandante, amigo. Você Zé, faz muita falta nas ruas e por que não, na televisão com suas palavras de lider, convincentes e verdadeiras.
Mas a força do PT segue sendo o caminho que vc abriu para todos nós. Quem te seguiu não se perdeu e não se perderá. E são milhares, milhões a sonhar o seu sonho.
Fico feliz em vê-lo bem, saudável, lúcido e bonito como sempre foi. Abraços carinhoso e, solidários. Sempre juntos

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