Villas Boas manobra para não fazer de Mourão mártir de intervencionistas
Deu no Tijolaço: o general Mourão não fala pelo Alto Comando, quem fala pelo Alto Comando sou eu, declarou Villas Bôas.
Por Nocaute em 20 de setembro às 11h40*Texto publicado originalmente no Tijolaço.
Tem gente que não enxerga que existe, no Brasil, um surto de autoritarismo que não é, apenas, um delírio de grupelhos ensandecidos.
A pesquisa CNT/MDA, publicada ontem, mostra que Jair Bolsonaro não é – claro, pode deixar de ser, quando as máquinas de campanha eleitoral se moverem – apenas um factóide.
Representa este surto autoritário e tem repercussão na área militar.
Como tenho dito desde o início, é clara a estratégia do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, de não transformar o general Antonio Hamilton Mourão em “mártir” do intervencionismo militar que, com o nosso retrocesso – obrigado, Sérgio Moro! -, saiu da toca e se apresenta quase que sem véus.
Há os que, claro, “exigem” punição exemplar para Mourão e não há dúvidas que, em condições normais de temperatura e pressão, ele a mereceria.
Mas, agora, só um ingênuo não vê que ele próprio a deseja e seria, ao contrário, um prêmio para ele. E pouco sabemos sobre onde e quanto os coturnos militares apertam os calos de seu comando.
Ontem à noite, no “Conversa com o Pedro Bial”, na Globonews, Villas Bôas deslizou e deu como “questão resolvida” o caso, dizendo, em outras palavras, que não vai criar caso com o que Mourão ache, desde que siga as diretrizes do comando.
– Ele não fala pelo Alto Comando, quem fala pelo Alto Comando sou eu.
É uma evidente manobra tática de quem dividiria opiniões se partisse para a punição – repito, correta mas inconveniente – imediata. Se Mourão seguir nas suas manifestações ostensivas, puni-lo será mais fácil e sem traumas.
Claro que isso afeta a autoridade do comandante do Exército e certamente seria da vontade deste ir além, mas, na sua visão, impede que “pipoquem” outras manifestações do gênero, o que geraria uma crise militar extremamente séria.
A impressão é que Villas Bôas foi ao limite do que lhe era possível, não onde deveria ir, num quadro democrático – inclusive com o reforço da subordinação militar ao poder civil, algo complicado de compreender nestes tempos de ilegitimidade total à autoridade civil , no quadro de fragilidade a que chegou a nossa democracia, que precisa chegar a 2018 sem nada que impeça a livre manifestação do povo brasileiro, seja pela ação de juízes ou de generais.
Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do NOCAUTE. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie. Leia o nosso termo de uso.
Mauricio
21/09/2017 - 09h30
Um general de 4 estrelas diz com todas as letras que o alto comando do Exército pode realizar uma intervenção militar e que possui planejamento para isso. Diz isso fardado, na ativa, com suas condecorações à mostra; e isso aparece postado na internet para a galáxia inteira ver.
O comandante do Exército vai na maior rede de TV do país, elogia o subordinado, diz que não vai punir o general e que as Forças Armadas podem sim intervir segundo sua peculiar “interpretação” da Constituição. Nem se esforça em negar o inegável.
O que mais precisa para autor ver o óbvio? O tanque na rua? Um milico meter o pé na sua porta e o prender?
A máscara do alto comando caiu. Os militares continuam pensando como em 64, como Mourão bem revelou.
E ainda tem iludido que acredita no “legalismo” dessa gente…
Precisamos de uma transformação em nossas FA, já!
Flávio Bertelli
20/09/2017 - 18h41
O sobrenome Mourão é o mesmo do general que precipitou o ‘start’ do golpe militar de 1964, ao colocar as tropas da 4ª Região Militar sediada em Juiz de Fora, Minas Gerais, na rodovia em direção ao Rio de Janeiro.Augusto Heleno
Quanto à estratégia do general Villas Boas, como quer o texto do Tijolaço, contrário é também verdadeiro. Tanto que o general Augusto Heleno, ex comandante das tropas do Haiti já declarou apoio e solidariedade ao general Mourão. Penso que isso vai se alastrar e a imprensa golpista vai estimular.
JOHN J.
20/09/2017 - 14h46
MOURÃO, essa palavra me lembra CERCA, cerca me lembra ARAME FARPADO e cerca feita de arame farpado me lembra PASTO, onde o GADO confinado só tem o direito e o dever de pastar, comer capim, ração e engordar para que seus donos lucrem muito no mercado do GADO GORDO.
Será só coincidência ou a ideia predominante é exatamente essa?