Venda da Liquigás: vergonha é pouco!

O físico Claudio Guedes sente cheiro de escândalo no anúncio da venda da Liquigás – propriedade da Petrobrás – para o Grupo Ultra. O governo postiço vai ter que explicar isso, nem que seja no banco dos réus.

Claudio Guedes*

 

Vejo no jornal Valor do dia 21/11, publicado como fato relevante – tão relevante que foi impresso em corpo 6, letras miúdas difíceis de leitura – a nota que a Ultragaz (Grupo Ultra) assinou contrato com a Petrobras para aquisição da Liquigás. A Liquigás é empresa controlada pelo estado, fundada em 1953, para fazer a distribuição e venda de gás (GLP) no país.

 

O valor da aquisição é de R$ 2,8 bilhões (valor da empresa a ser adquirida). No racional da aquisição vejo que a Ultragaz comercializou, em 2015, 1,7 milhão de toneladas de GLP, e obteve uma receita total de R$ 4,6 bilhões. No mesmo período a Liquigás comercializou 1,65 milhão de toneladas de GLP e obteve uma receita total de R$ 3,3 bilhões. Uma simples conta mostra que a Ultragaz (Grupo Ultra) vendeu, em 2015, a tonelada de GLP a R$ 2.705,88 e a Liquigás (Grupo Petrobras) vendeu a R$ 2.000,00 exatos. Uma diferença de mais 35%!

 

Esse é um ganho imediato que o Grupo Ultra poderá realizar pela simples equalização de preços dos produtos vendidos. Só este dado permite dizer, de forma objetiva, que o payback da transação dever ser de pouco mais de dois anos! Fora os ganhos de escala e os ganhos com o fato de que em muitas regiões do país a Ultrapar atuará como um quase monopólio.

 

Um escândalo?

 

  1. a) Por que vender uma empresa que atende consumidores brasileiros, inclusive de baixo poder aquisitivo, que é controlada pelo estado, e trabalha em um mercado concorrencial?

 

  1. b) Por que vender para um concorrente e com isso aumentar a concentração do mercado?

 

  1. c) Por que a venda, se tiver que ser feita, do braço de distribuição de gás da Petrobras, não se dá por leilão publico e com ampla concorrência, inclusive internacional?

 

  1. d) Por que o Grupo Ultra? Este grupo privado nacional, exatamente por meio da Ultragás – hoje Ultragaz, mas trata-se da mesma empresa – foi um dos financiadores da OBAN (Operação Bandeirante), no início dos anos 70, um centro de torturas e assassinatos, montado na ditadura militar para combater e eliminar grupos políticos contrários ao regime.

 

Nunca ouvi um pedido de desculpas do Grupo Ultra. Nem o mesmo foi penalizado, com multas pesadas e com a proibição de atuar no país, como seria natural e correto, uma vez que crimes de tortura e assassinatos cometidos por um órgão paramilitar não deveriam estar cobertos pela Lei da Anistia.

 

Será agora premiado? Pelos tucanos que controlam a Petrobras?

 

Uma vergonha? Vergonha é pouco.

 

*Cláudio Guedes, 62 anos, natural de Salvador, Bahia, é físico e empresário.

4 Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do NOCAUTE. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie. Leia o nosso termo de uso.

Cintia Avila de Carvalho

24/11/2016 - 01h02

O rapaz que entrega gaz para mim sabe disso. Estão segurando preço sem o segundo aumento para não perder freguesia. Sabe da fusão e diz que até o final do ano o gaz pode chegar a 100 reais ou mais.

Responder

Manoel do vale

23/11/2016 - 22h05

É a volta da privataria tucana !!!!
Nenhuma novidade !!!!!

Responder

Cláudio E

23/11/2016 - 20h04

Pois eu estou me sentindo meio assim; é um cansaço, um esgotamento que a gente não sabe para onde vaza… uma perda não identificada. Em 1964 eu tinha 18 anos, só vim recobrar minha cidadania aos 39 – aí pensei: Graças a Deus, ditadura nunca mais!! E eu ainda sou Colorado.

Responder

Rita Candeu

23/11/2016 - 15h56

tá complica se manter saudável com essas noticias
sinto que a cada noticia dessa levo mais um tranco e adoeço mais um pouco

Responder

Deixe uma resposta

Recomendadas