Samuel Guimarães: com a “Operação Carne Fraca”, a Federal bate de frente com uma das mais poderosas forças da sociedade brasileira.
Assim como a Lava Jato destruiu a indústria da construção pesada, que já demitiu mais de 300 mil trabalhadores, e ameaça a Petrobras, agora a “Carne Fraca” mira o agronegócio. É o Brasil descendo a ladeira. Por Samuel Pinheiro Guimarães
Por Nocaute em 21 de março às 18h22
Por Samuel Pinheiro Guimarães*
O tema do momento é a carne. Esta operação, de uma certa forma, sintetiza todos os absurdos que vivemos. Em primeiro lugar foi proclamada como a maior operação da Polícia Federal. Tenho certeza que o ministro da Justiça não tinha a menor ideia dessa operação. O ministro da Justiça não tem o menor controle sobre a Polícia Federal que tomou o freio nos dentes, por um lado.
E em segundo lugar as declarações absurdas do delegado que acha que ácido ascórbico, a vitamina C, é um perigoso agente cancerígeno. E outras sandices, não é?
Essa operação também revela os danos que a operação Lava-Jato vem causando ao Brasil. O jornal Valor de hoje diz que as empresas construtoras Camargo Correa, Odebrecht etc., no seu conjunto despediram trezentos mil funcionários por conta de um processo político-econômico que vem de fora do Brasil.
O próprio jornal Valor revela a existência de correspondência de advogados americanos suscitando o depoimento de delatores brasileiros, pessoas que se disponham a delatar em troca de recompensa.
Voltando à questão da carne: é algo extraordinário porque o próprio ministro da Justiça está envolvido no caso e há uma gravação segundo os jornais em que o ministro da Justiça chama o principal investigado como “grande chefe”. Isto é o resumo do processo que vivemos no Brasil com a Lava-Jato.
E que leva inclusive a questão do movimento de privatização da Petrobras e de destruição da economia brasileira. Começa com a Petrobras, vai para as empreiteiras e agora pro setor do agronegócio. Porém, no agronegócio a Polícia Federal bate de frente com uma das forças mais poderosas da sociedade brasileira.
Veremos o que vai acontecer.
*Samuel Pinheiro Guimarães foi secretário-geral do Itamaraty, na gestão Celso Amorim, e ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (governo Lula) e Alto-Representante Geral do Mercosul. É autor dos livros “Quinhentos anos de periferia” (1999) e “Desafios brasileiros na era dos gigantes” (2006), obra pela qual foi eleito Intelectual do Ano, recebendo o Troféu Juca Pato da União Brasileira de Escritores.
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Gilberto de Azevedo Neto
22/03/2017 - 09h10
Li em algum lugar, há tempo, que casos de canibalismo intra-uterino ocorrem em tubarões de uma determinada espécie. Tubarões cinza, acho.
Mas essa “cagada de pato” da PF mexeu com um setor – como foi bem colocado – poderoso na conjuntura socioeconômica do país; setor este que tinha (e tem) sua bancada no congresso engajada no golpe. Mas que paga, hein? Pode ser que daí tenhamos casos de canibalismo intra-uterino no ventre do golpe. Sim, porque o golpe ainda não está consumado; não é acontecimento que se resuma em um único ato. Não. É uma sequência de atos vis, para primeiro desacreditar setores importantíssimos do país e, logo em seguida, entregá-los de mão beijada para o capital internacional. E não apenas o que é público: aí está o exemplo.