Quem põe o pitbull de volta na casinha?
Os exemplos recentes das indignidades cometidas contra a memória da ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva, tanto na imprensa quanto na publicidade, dão a perfeita medida do nível abissal a que decaiu a comunicação brasileira.
Por Nocaute em 17 de maio às 18h41
Por Gabriel Priolli
Os exemplos recentes das indignidades cometidas contra a memória da ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva, tanto na imprensa quanto na publicidade, dão a perfeita medida do nível abissal a que decaiu a comunicação brasileira.
Em tempos mais venturosos, delitos semelhantes aconteciam, mas era difícil que algum organismo representativo da mídia não se manifestasse, para criticar e até cobrar retratação.
Desta vez, entretanto, não houve ABI, ANJ, CONAR, nenhuma entidade que contestasse esse uso de armas tóxicas no jornalismo de campanha e no marketing de oportunismo rasteiro, que se pratica agora com naturalidade.
Todos os códigos de ética, os manuais de redação e os fundamentos editoriais estão mortos.
Não significam mais nada para quem faz a comunicação, muito menos para quem a recebe, ou desfruta, ou padece.
Não há mais reportagem, não há mais notícia digna do nome, não há mais sequer os fatos. O que existe no lugar disso é construção de discurso e guerra de versões.
Não importa mais o que aconteceu. Importa o que se possa dizer do que tenha acontecido.
A questão é que a democracia verdadeira só pode se fundar na livre informação.
Ela exige a apuração limpa e profunda dos fatos, para que cada um se posicione diante deles. E para que o debate público produza as escolhas políticas.
É o exato oposto do que há hoje no Brasil, para não falar do resto do mundo.
Uma torrente incessante de discursos sem fundamento nos fatos entope todos os canais sensoriais dos indivíduos, que entendem cada vez menos o que acontece e agoniam-se cada vez mais.
Será possível voltar aos padrões éticos e técnicos que nortearam o jornalismo e a propaganda, em tempos de menos ódio e mais convivência civilizada?
Será que essa comunicação neurótica, raivosa, hidrofóbica, voltará à moderação algum dia? Será possível colocar o pitbul de volta na casinha?
Mais de uma década de histeria incessante na comunicação pode ter causado um dano irreversível à democracia brasileira.
Já sabíamos de Tom Jobim que o Brasil não é para principantes. Mas vamos descobrindo agora que só os muito fortes conseguirão resistir, nessa arena brutal em que ele se transformou.
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Jacqueline Fabbrin
17/05/2017 - 23h54
No mesmo dia em que vi a propaganda das Lojas Marisa formalizei uma reclamação no CONAR. Quando entidades, organizações, associações, etc.. se calam e aceitam o jogo perverso imposto pela mídia e publicidade, temos o dever de manifestarmos individualmente. A manifestaçao individual ainda é uma forma de resistência política e social.