Ricardo Amaral: era uma vez um país chamado Brasil.

"Não se enganem, a maior vítima desse ano fatídico de 2016 não é a Dilma, não é o PT, não será o Lula. A maior vítima é a Constituição, com os direitos e garantias que ela consagrou.." (Foto Paula Simas/F4)

 

Três, dois, um… Era uma vez um país chamado Brasil. Uma jovem e promissora democracia fundada numa Constituição que estabeleceu três poderes. O Executivo, eleito pela maioria da população, para implementar um programa de governo. O Legislativo, eleito pelo conjunto da sociedade, exatamente para exprimir as divergências e para exercer a política. E o Judiciário, que não é eleito mas tem a missão fundamental de garantir o equilíbrio e fazer com que seja respeitada a Constituição.

 

Isso não existe mais. O que temos hoje é um Executivo sem voto que impõe um programa rejeitado pela população. Um Legislativo que não respeita a lei e depõe uma presidente eleita. E um Judiciário que não garante o Estado de Direito e ignora olimpicamente tudo o que está sendo feito ao seu redor.

 

Acima desses poderes nós temos um outro, o Ministério Público, que se tornou o executor do estado policial entre nós.

E acima de todos temos a mídia oligopolizada, um superpoder ao qual todos os demais obedecem.

 

Eu guardo aqui comigo esta fotografia tirada numa madrugada de outubro de 1988. Aqui estamos, os jornalistas que cobrimos a Assembleia Nacional Constituinte festejando com essa figura, o doutor Ulisses Guimarães. Festejando o nascimento da nossa democracia.

Quis o destino, e esse é trapaceiro, que exatamente no 28º aniversário, a Constituição fosse estuprada por quem jurou defendê-la: o Supremo Tribunal Federal.

 

Revogada a presunção de inocência, o princípio sagrado e universal do Direito, voltamos ao reino da incerteza, do arbítrio, voltamos à lei do mais forte. Agora no Brasil manda quem pode, e quem pode mandou derrubar o governo eleito por 54 milhões de votos. Mandou criminalizar o PT, a corrente política mais importante desse país. E agora manda prender o ex-presidente Lula. Pois não é outro o sentido da decisão deste 5 de outubro no Supremo Tribunal Federal.

 

Tudo porque foram incapazes de vencer nas urnas.

 

Não se enganem, a maior vítima desse ano fatídico de 2016 não é a Dilma, não é o PT, não será o Lula. A maior vítima é esse livrinho aqui, com os direitos e garantias que ele consagrou.

Era uma vez uma democracia chamada Brasil

8 Comentários

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Manoel Belo

28/08/2017 - 20h48

Olá, pessoal, enquanto existir Rede Globo, a democracia brasileira será uma velhinha com falência de todos os órgãos, numa UTI do SUS.

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Ricardo Amaral: era uma vez um país chamado Brasil. - Bem Blogado

10/10/2016 - 18h01

[…] Por Ricardo Amaral, Nocaute –  […]

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ERA UMA VEZ UM PAÍS CHAMADO BRASIL – Blog Henrique Barbosa

09/10/2016 - 13h30

[…] Por Ricardo Amaral – Jornalista Brasília no Nocaute […]

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Flávio Abreu

09/10/2016 - 12h51

Muito bom e muito triste…
Tempos sombrios
Parabéns pelo blog

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Otavio Demasi

09/10/2016 - 08h01

Estou com quase 70 anos e batalho através do meu blog, na rua, falando com as pessoas visando o enfrentamento os GOLPISTAS através de boicote, que poderia ser feita Brasil todo já nessas eleições, enviando e-mail aos congressistas, opinando sobre o entreguismo e podemos boicitá-los em 2018 se ainda restar democracia, mas nós o povo que apoia a democracia, vai lutar para que ela subsista.
Outras ações dentro das normas podem e devem ser feitas, mas a despolitização é enorme, felizmente a estudantada está fazendo o que fizemos, ou parte, durante 64 quando tinha 19 anos.
Quem vai perder mais com essa sacanagem toda são os abastados, porque na hora da fome, as reações podem ser bem diferentes e mesmo antes disso, com a partidarização judiciária, muita coisa pode degringolar. Enfatizar que brasileiro é passivo, cinversa, leia Leoncio Basbaum , historiador.
Cutucar onça com vara curta é colocar lenha a fogueira. A história está cheia de exemplos, ninguem é todo oderoso o tempo todo…

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Sebastião Marques

09/10/2016 - 06h42

Penso exatamente como o autor do texto. Não preciso alterar uma palavra sequer. Faço inteiramente minhas as suas palavras. Trabalhei muito durante toda a Assembléia Constituinte, aqui em Pirapora-MG, pequena cidade na margem direita do rio São Francisco, para ajudar nosso povo a entender o momento histórico que então vivíamos. o momento Constituinte. Estive em todas as nossas escolas fazendo palestras e participando de debates. Trouxe aqui a Pirapora o Professor Dalmo Dallari, que fez uma inesquecível palestra para um auditório lotado, no Hotel Canoeiros. E vejo que tudo está se perdendo. Pela primeira vez nos meus 67 anos de vida, sinto vergonha de ser brasileiro. Mas fazer o diagnóstico correto e me sentir envergonhado, não resolve. Tenho me perguntado: o que nos resta, a nós brasileiros, senão encontrarmos o melhor caminho para a resistência? Ainda sem resposta satisfatória, continuo me perguntando: que caminho seria esse?

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Rosangela Guerra

08/10/2016 - 11h43

Muito bom, Ricardo Amaral. Era uma vez uma democracia, uma Constituiçao, o nosso sonho de um País melhor para todos

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Emerson

08/10/2016 - 10h27

E nos que acreditávamos em nossa Constituição. E nos que acreditávamos nas regras do jogo. E nós que acreditávamos na democracia burguesa.

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