A polícia na redação. Levada pelos patrões.

A redação do Cruzeiro do Sul, um diário tradicional de Sorocaba, em São Paulo, foi visitada por um procurador de justiça e policiais, que não gostaram da cobertura que o jornal fez da Greve Geral de 28 de abril.

 

Por Gabriel Priolli

 

A redação do Cruzeiro do Sul, um diário tradicional de Sorocaba, em São Paulo, foi visitada por um procurador de justiça e policiais, que não gostaram da cobertura que o jornal fez da Greve Geral de 28 de abril.

 

Eles foram pressionar os jornalistas a adotar uma posição parcial, de aberta condenação do movimento grevista. Os colegas denunciaram censura e assédio moral, porque entendem que cobriam o assunto de forma equilibrada.

 

A nota insólita do episódio é que diretores da própria organização que edita o jornal acompanharam as autoridades.

 

Eles não se contentaram em resolver o assunto internamente, anotando as críticas externas e analisando com seus jornalistas.

 

Preferiram se juntar aos parcialistas, aos censores, aos cultores do jornalismo de um lado só, exigindo que os seus empregados cumprissem função política para a qual não foram contratados e nem é da sua atribuição.

 

Este é mais um episódio da degeneração dos padrões éticos na imprensa comercial brasileira, que entrou em um túnel aparentemente sem fim.

 

O que a imprensa corporativa brasileira oferece hoje, e cada vez mais, não é exatamente jornalismo. É campanha política com linguagem jornalística, em aberta violação aos princípios que regem a atividade.

 

Princípios liberais, convém ressaltar, ainda observados nas principais democracias do mundo, mesmo que também nelas estejam sob ataque.

 

A cada dia, acumulam-se no país as arbitrariedades judiciais, policiais, parlamentares e governamentais, que vão configurando um estado de exceção.

 

A Constituição de 1988 garante as liberdades políticas, de reunião, manifestação e greve,  mas elas só podem ser exercidas pelo lado amarelo da sociedade. O vermelho é sempre e necessariamente reprimido, sob todo e qualquer pretexto.

 

No estado de exceção anterior, que infelicitou o Brasil por 21 longos anos, a imprensa se arrependeu logo de tê-lo apoiado e contribuiu muito para encerrá-lo.

 

Agora, pateticamente, sente nostalgia dele e repete o mesmo script que nos levou a 1964 e legitimou a ditadura, até que ela censurasse e reprimisse também os aliados.

 

Vivemos em um país que 92% dos habitantes consideram estar no rumo errado, com um presidente ilegítimo e sem-voto aprovado apenas por 9%, impelindo reformas repudiadas por 72%.

 

É uma tragédia, e uma vergonha para os jornalistas, que a imprensa corporativa não apenas esteja a favor de tudo isso, mas agora também chame a polícia, para intimidar as suas próprias redações.

3 Comentários

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Maria

06/05/2017 - 16h00

Temer é governo “ilegítimo”? E quem votou nele, foi quem?

Sitezinho esquerdopata, que apoia as maracutaias armadas pelo próprio partido que apoiam!
Criem vergonha na cara

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SERGIO DE PAULA

05/05/2017 - 15h41

Os patrões são sempre iguais e cuidam apenas dos seus interesses. Vendam chapéus ou noticias.

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Luiz Signates

05/05/2017 - 08h33

Amigo Priolli,

Você está me dizendo que, num jornal do interior paulista, a redação efetua uma linha editorial diferente daquela que é determinada pelos donos do jornal e resiste às interferências? É isso mesmo?

Cara, penso que isso deve ser único no planeta Brasil. Aqui em Goiás, já participei de reunião de pauta na qual os jornalistas debatem alegremente as alternativas e possibilidades de se colocar a ordem de cima em prática.

Fale-nos mais desse jornal de Sorocaba, meu amigo.

Abraço grande

Signates

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