Jornais, jornalistas e público se iludem com o “Mercado”
Milhões acreditando que as coisas vão melhorar com "menos estado e mais mercado", quando está na cara que elas pioram cada vez mais.
Por Nocaute em 24 de julho às 19h18
Gabriel Priolli
Três leituras trazidas pela mídia, três leituras da própria mídia.
O Estadão comenta uma pesquisa do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, que ouviu mais de 70 mil pessoas em 36 países, e celebra os resultados relativos ao Brasil.
O país é o segundo, entre os pesquisados, que mais confia na mídia que tem.
60% dos brasileiros entrevistados afirmaram que acreditam nas notícias que leem ou ouvem.
Eles também reconhecem a responsabilidade das empresas jornalísticas, na filtragem das informações que veiculam.
A USP divulga um livro organizado por pesquisadores da Escola de Comunicações e Artes, que anota as mudanças no mundo do trabalho dos jornalistas.
Os professores estudaram os jornalistas sindicalizados em São Paulo, os contratados por uma grande empresa editorial paulista, os freelancers e os que se manifestam nas redes sociais.
Dessa amostra, surgiu o perfil típico do jornalista atual, na região que é o centro da mídia brasileira.
A nova geração é majoritariamente feminina, com menos de 35 anos e não é sindicalizada.
Segundo os pesquisadores, os novos jornalistas têm formação política débil e estão massacrados pelo volume de trabalho e pelo tipo de empregabilidade a que estão submetidos.
Mas eles não vislumbram soluções coletivas, como sindicalizar-se ou organizar-se para pleitear melhores condições de trabalho. Eles preferem as saídas individuais.
Valorizam o empreendedorismo e poucos vão contra o pensamento hegemônico na política e na economia – o do neoliberalismo.
Já na Folha de S.Paulo, o dono da empresa, Otavio Frias Filho, comenta a obra do filósofo alemão Walter Benjamin, um dos mais importantes pensadores marxistas do Século XX.
Ele valoriza a contribuição de Benjamin e diz que a sua obra continua a cobrar certas promessas nunca realizadas.
“Se emancipa multidões da miséria material, o capitalismo não cessa de gerar desigualdade social e vulgaridade cultural, além de consumo perdulário e abusivo”, escreve Frias.
Pois é exatamente esse modelo de organização da economia e da sociedade, agora em sua fase neoliberal, que a Folha, o Estadão e toda a mídia comercial brasileira defendem com unhas e dentes, fechando cada vez mais os espaços para as críticas a ele.
É essa utopia nunca realizada que os jovens jornalistas valorizam, enquanto penam na realidade que imprensa privada oferece a eles.
É nessa mídia que prega aquilo em que não se deve confiar que 60% dos brasileiros confiam.
E assim vamos, nesse trágico jogo dos contentes.
Milhões acreditando que as coisas vão melhorar com “menos estado e mais mercado”, quando está na cara que elas pioram cada vez mais.
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