Jornais, jornalistas e público se iludem com o “Mercado”

Milhões acreditando que as coisas vão melhorar com "menos estado e mais mercado", quando está na cara que elas pioram cada vez mais.

 

Gabriel Priolli

Três leituras trazidas pela mídia, três leituras da própria mídia.

O Estadão comenta uma pesquisa do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, que ouviu mais de 70 mil pessoas em 36 países, e celebra os resultados relativos ao Brasil.

O país é o segundo, entre os pesquisados, que mais confia na mídia que tem.

60% dos brasileiros entrevistados afirmaram que acreditam nas notícias que leem ou ouvem.

Eles também reconhecem a responsabilidade das empresas jornalísticas, na filtragem das informações que veiculam.

A USP divulga um livro organizado por pesquisadores da Escola de Comunicações e Artes, que anota as mudanças no mundo do trabalho dos jornalistas.

Os professores estudaram os jornalistas sindicalizados em São Paulo, os contratados por uma grande empresa editorial paulista, os freelancers e os que se manifestam nas redes sociais.

Dessa amostra, surgiu o perfil típico do jornalista atual, na região que é o centro da mídia brasileira.

A nova geração é majoritariamente feminina, com menos de 35 anos e não é sindicalizada.

Segundo os pesquisadores, os novos jornalistas têm formação política débil e estão massacrados pelo volume de trabalho e pelo tipo de empregabilidade a que estão submetidos.

Mas eles não vislumbram soluções coletivas, como sindicalizar-se ou organizar-se para pleitear melhores condições de trabalho. Eles preferem as saídas individuais.

Valorizam o empreendedorismo e poucos vão contra o pensamento hegemônico na política e na economia – o do neoliberalismo.

Já na Folha de S.Paulo, o dono da empresa, Otavio Frias Filho, comenta a obra do filósofo alemão Walter Benjamin, um dos mais importantes pensadores marxistas do Século XX.

Ele valoriza a contribuição de Benjamin e diz que a sua obra continua a cobrar certas promessas nunca realizadas.

“Se emancipa multidões da miséria material, o capitalismo não cessa de gerar desigualdade social e vulgaridade cultural, além de consumo perdulário e abusivo”, escreve Frias.

Pois é exatamente esse modelo de organização da economia e da sociedade, agora em sua fase neoliberal, que a Folha, o Estadão e toda a mídia comercial brasileira defendem com unhas e dentes, fechando cada vez mais os espaços para as críticas a ele.

É essa utopia nunca realizada que os jovens jornalistas valorizam, enquanto penam na realidade que imprensa privada oferece a eles.

É nessa mídia que prega aquilo em que não se deve confiar que 60% dos brasileiros confiam.

E assim vamos, nesse trágico jogo dos contentes.

Milhões acreditando que as coisas vão melhorar com “menos estado e mais mercado”, quando está na cara que elas pioram cada vez mais.

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