Hora de repensar a mídia pública
O golpismo zerou o jogo da mídia pública. Começou o tempo de repensá-la e reprojetá-la, para que volte melhor e mais útil - e não seja mais destruída.
Por Gabriel Priolli em 12 de dezembro às 11h50
Hora de repensar a mídia pública
A extinção da TV Educativa do Rio Grande do Sul e da FM Cultura é o ato final da tragédia vivida pela comunicação pública neste ano infeliz.
O fim das duas emissoras vem num pacote de ajuste neoliberal, que suprime nada menos do que oito fundações – todas elas, não por acaso, ligadas à cultura, à educação e à ciência.
Antes da TVE gaúcha, foi-se a Empresa Brasil de Comunicação, nos moldes democráticos em que foi criada. Agora, ela está convertida em mais uma estatal, a serviço de governos.
Foi-se também a autonomia da Rede Minas, negociada no balcão dos interesses políticos.
Foram-se as esperanças de construção, a curto prazo, de um amplo sistema de comunicação pública, plural, democrático, financiado em parte com recursos estatais, mas livre do jugo de governantes.
A ideia vitoriosa, no momento, é a de que a mídia pública é um desperdício de dinheiro, e de que a mídia privada é suficiente para atender às necessidades de informação do país.
Obviamente, esse ataque à mídia pública só foi possível e teve êxito sob um governo radicalmente privatista, que não é apenas apoiado, mas também orientado e até coagido, pela grande imprensa privada.
Isso não elimina, entretanto, os muitos erros cometidos pela mídia pública em anos recentes, sobretudo a sua incapacidade de realizar produtos audiovisuais de efetivo impacto e influência.
Sem projeto, sem audiência e sem prestígio, a mídia pública não tem apoio popular e perdeu a sustentação. Foi levada ao impasse e não soube sair dele.
O trabalho de reconstrução não será feito agora, porque a destruição sequer acabou. Mas a reflexão deve começar já.
A mídia pública será forte, indestrutível, apenas no dia em que o povo brasileiro reconhecer a sua necessidade.
Apenas quando entender que a mídia privada é incapaz de prover a variedade de conteúdos e abordagens que a diversidade política e cultural do país exige.
Esse é o desafio a vencer.
O golpismo zerou o jogo da mídia pública. Começou o tempo de repensá-la e reprojetá-la, para que volte melhor e mais útil – e não seja mais destruída.
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