Gabriel Priolli: livrar-se do jornalixo e restaurar o culto à verdade dos fatos, é uma providência mínima de quem ainda acredita em convivência democrática.
"O maior problema é o jornalismo subterrâneo, apócrifo. Esse que exibe uma profusão de marcas, mas não diz o nome de quem o oferece ao distinto leitor."
Por Nocaute em 15 de outubro às 21h47
JORNALISMO APÓCRIFO
Gabriel Priolli
Receber informação, atualmente, é a coisa mais fácil do mundo. Difícil é saber o que está acontecendo e, principalmente, quem informa.
O jornalismo jorra de todas as partes, de todas as mídias. E nunca tantas pessoas foram tão ignorantes do que se passa, e tão perdidas nos caos informativo, como agora.
A velha mídia, ou grande imprensa, tem culpa nisso, porque perdeu em substância o que ganhou em sectarismo, em obsessão pelo pensamento único.
A nova mídia, ou blogosfera, também tem responsabilidade, porque é boa em dar opinião, mas ainda é ruim em produzir notícia e reportagem.
Mas a velha e a nova mídia são dois campos da produção jornalística muito bem definidos, com marcas e personagens bem conhecidos. O público sabe perfeitamente quem são e de que lado estão.
O maior problema é o jornalismo subterrâneo, apócrifo. Esse que exibe uma profusão de marcas, mas não diz o nome de quem o oferece ao distinto leitor.
Tente encontrar nomes, nesses sites que infestam as suas redes sociais. Não importa a coloração política, tente saber quem responde por eles.
Click Política, Diário do Brasil, Folha Política, O Brasil Online, Brasil Verde e Amarelo, Pensa Brasil, Folha Digital, Blasting News, Jornal do País, Falando Verdades, Gazeta do Internauta, Verdades Ocultas – a lista é interminável e estes são apenas alguns exemplos.
Quem edita essas páginas? Que apito ele toca? O que come, como vive, o que faz?
Você não verá no Globo Repórter. Para encontrar indícios, tem de pesquisar muito na internet.
Nomes mesmo é quase impossível encontrar, mas você vai descobrir que um dos sites é editado no Arizona, outro pertence a um grupo italiano e outro é hobby de um advogado especializado em direito previdenciário.
De direita, de esquerda, do alto ou de baixo, todos esses sites têm algo em comum, além do anonimato: a desatenção aos fundamentos do jornalismo.
Quase sempre deixam de responder alguma das perguntas básicas do texto informativo – o que aconteceu, onde, quando, com quem, como e por que.
Quando reproduzem informações de terceiros, seja da grande imprensa ou da blogosfera, alteram manchetes, para apimentá-las. Interpretam o conteúdo de forma distorcida. Fazem simplificações grosseiras.
Não têm a mais remota preocupação em checar nada, antes de mandar a informação adiante como verdade comprovada.
Mas também podem narrar fatos reais, e produzir análises relevantes – sem que o leitor possa distinguir o que é trigo e o que é joio.
E segue em frente esse angú desinformativo, internet adentro, diretamente para o papo de incontáveis patos amarelos ou vermelhos, que engolem qualquer coisa e compartilham sofregamente, nas redes sociais.
Isso não é bom para ninguém. Não pode ser bom.
O Brasil não sairá da crise profunda em que atolou sem debate político sério, que exige informação de qualidade, para opiniões bem fundamentadas.
Livrar-se do jornalixo e restaurar o culto à verdade dos fatos, por incômodos que eles sejam, é uma providência mínima de quem ainda acredita em convivência democrática.
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“Como identificar a veracidade de uma informação e não espalhar boatos”
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Tetê Bertoldi
17/10/2016 - 22h56
Muito plausível teu comentário. Há certos turistas que confundem o verdadeiro jornalismo
Ana Fadigas
16/10/2016 - 18h26
Da Escola onde aprendemos ,não necessariamente de Jonalismo , nem passaram perto. Que demolidor Gabriel!
Marcos Caldeira Mendonça
16/10/2016 - 14h32
Gabriel, boa tarde,
me diga uma coisa: saberia me dizer quem criou esse neologismo JORNALIXO?
Obrigado.
Gabriel Priolli
17/10/2016 - 13h58
Não sei identificar, Marcos. Eu o vejo utilizado indistintamente por gente de esquerda ou de direita, para referir-se respectivamente à grande imprensa e à blogosfera. Mas acho cabível a sua acepção tão somente para esse jornalismo apócrifo que critico no comentário.
Marcelo
16/10/2016 - 12h53
Primeiro restaurar o culto à verdade, daí será consequência o extermínio do jornalixo!