Acabar com a EBC é a fake news de Alckmin para coroar 2017
O ano tenebroso de 2017 não poderia acabar sem algo que foi típico dele, no mundo da política e da comunicação: uma boa fake news. Disse sua excelência o governador dos paulistas, Geraldo Alckmin, que vai acabar com a EBC-Empresa Brasileira de Comunicação, caso os brasileiros cometam o desatino de colocá-lo na presidência da República, no próximo outubro.
Por Gabriel Priolli em 29 de dezembro às 16h20O ano tenebroso de 2017 não poderia acabar sem algo que foi típico dele, no mundo da política e da comunicação: uma boa fake news.
Disse sua excelência o governador dos paulistas, Geraldo Alckmin, que vai acabar com a EBC-Empresa Brasileira de Comunicação, caso os brasileiros cometam o desatino de colocá-lo na presidência da República, no próximo outubro.
Em entrevista à Rádio Jovem Pan, Alckmin comentou a informação de que a direção da EBC cogita reduzir a folha de pagamento e mudar a grade de programação, para equilibrar as contas em 2018.
A empresa terá R$ 20 milhões a menos no orçamento, que já era insuficiente para operar seus dois canais de TV, oito emissoras de rádio e uma agência de notícias.
Mas a EBC acredita que, com menos despesa trabalhista e uma programação que atraia mais audiência para o seu carro-chefe – a TV Brasil -, conseguirá atravessar 2018 sem sobressaltos.
Será seu último ano de problemas e de vida, se Alckmin for o piloto da caneta presidencial, a partir de 2019. O candidato tucano pretende extinguir a empresa, com base em um argumento bastante surrado.
“É a TV do Lula”, diz Alckmin, repetindo o bordão de dez anos atrás. “Gasta um dinheirão e não dá audiência. Temos que modernizar”.
A modernização, claro, seria extinguir a televisão pública, para que os brasileiros possam desfrutar mais as delícias da mídia privada, este suposto exemplo de correção editorial e sucesso comercial, cuja decadência até as formigas já conseguem perceber.
A fake news, no caso, reside em dois aspectos. Primeiro, Alckmin não faria o que está dizendo. Segundo, não é possível acabar com o que já acabou.
Se a mídia pública fosse tão desimportante, Michel Temer não teria posto a EBC sob seu comando, menos de uma semana depois de usurpar a presidência, em maio de 2016. Já teria acabado com ela.
De outro lado, o golpismo já extinguiu a TV Brasil como “TV do Lula”, no sentido daquela emissora plural, equilibrada e preocupada em dar voz e imagem a setores sociais sub-representados na mídia, que existiu durante o período petista.
Uma emissora complementar, voltada a transmitir conteúdos e valores que as TVs comerciais não oferecem, como é papel da televisão pública, em toda parte onde ela não foi estuprada pelo mercado.
Agora, sob o governo do MDB de Temer e do PSDB de Alckmin, o critério da TV Brasil é exatamente o do mercado.
O critério da audiência bruta, do volume de audiência, que se pode trocar por publicidade comercial, devidamente disfarçada de “apoio cultural”.
Se Alckmin quer acabar com a televisão pública federal, por julgá-la inútil, por que nunca propôs acabar com a televisão pública paulista, a TV Cultura, que está sob jugo tucano há quase 20 anos e opera pelo menos há sete sob a mesma lógica da atual TV Brasil?
“Modernizar” a TV pública, em São Paulo, significou reduzir drasticamente o orçamento, quase eliminar a produção própria e encher a grade com audiovisual estrangeiro.
E, claro, tucanar o seu jornalismo em altíssimo grau, como bem demonstra a pauta atual do “Roda Viva”, onde o pensamento único neoliberal e antidemocrático raramente é incomodado com alguma dissidência.
A EBC e a TV Brasil têm muitos problemas e o inchaço de mão de obra é certamente um deles. A programação é outro.
Mas esses problemas não serão efetivamente resolvidos por Alckmin, nem por qualquer presidente a serviço do mercado, exceto pelo único caminho que eles praticam e que não caberia aqui: a privatização.
Mídia pública exige visão democrática, respeito à diversidade e espírito público. Nada que os mercadistas possam garantir.
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