Os venezuelanos votaram. E agora?
8 milhões de venezuelanos foram às urnas em rechaço às táticas violentas da oposição e ao projeto intervencionista que vem sendo gestado aqui em Washington.
Por Aline Piva em 02 de agosto às 17h07
Aline Piva
No último dia 30, mais de 8 milhões de venezuelanos participaram do processo eleitoral para eleger seus representantes na Assembleia Nacional Constituinte. Apesar das diversas tentativas de sabotagem – mais de 200 centros de votação foram atacados pela oposição e diversas pessoas relataram que foram impedidas de votar devido aos “trancazos” convocados por essa mesma oposição –, essa foi a segunda maior votação da história recente do país, perdendo apenas para as eleições presidenciais de 2012.
O que esses resultados demonstram? Em primeiro lugar, que uma parcela importante da sociedade venezuelana (mais de 40% do total de eleitores do país) aposta na construção de um novo consenso hegemônico, através do diálogo e do empoderamento das construções democráticas populares. Demonstram uma importante recuperação da capacidade do chavismo para mobilizar a participação popular. Também trazem uma renovação da representatividade do governo Maduro, após a derrota nas eleições legislativas de 2015. Isso não quer dizer que só chavistas votaram, ou que os resultados seja uma carta branca a Maduro, mas sim que a população fez uma escolha clara pelo processo democrático, e não pelo golpismo da oposição.
Segundo: que a oposição vem perdendo sua base de apoio. O voto na Constituinte foi um claro rechaço à política de incentivo à violência que vem sendo empoderada pela oposição. Ao promover o caos econômico e a violência, a MUD afastou os setores mais moderados da oposição venezuelana, que já não vê na MUD uma opção politicamente viável e aposta agora na refundação do pacto social através do diálogo constituinte.
Frente ao fracasso da tentativa de deslegitimar internamente a Constituinte e o governo democraticamente eleito de Nicolás Maduro, retomam a estratégia de ataques internacionais: antes mesmo que a votação terminasse, países como Colômbia e México (muito coincidentemente, os países visitados por Mike Pompeo, diretor da CIA, para discutir a “transição democrática” na Venezuela), emitiram declarações afirmando que não reconheceriam o resultado do pleito, no que foram seguidos por diversos outros países, entre eles Brasil, Argentina e Canadá (em mais uma curiosa coincidência, justamente os países que lideram os ataques à Venezuela no âmbito da OEA). Os Estados Unidos, que já haviam ameaçado o país com sanções caso a votação do domingo fosse levada a cabo, responderam sancionando Nicolás Maduro na última segunda, em uma clara demonstração de que não entenderam o papel que o rechaço ao intervencionismo teve no fortalecimento da Constituinte.
As eleições de domingo marcam um momento crucial na história do chavismo. 8 milhões de venezuelanos foram às urnas em rechaço às táticas violentas da oposição e ao projeto intervencionista que vem sendo gestado aqui em Washington. O povo Venezuelano fez uma aposta pelo aprofundamento da soberania democrática, para corrigir os erros do processo chavista e para dar peso constitucional às conquistas sociais dos últimos anos. Eles deram um mandato para as elites políticas do país para que sentem à mesa de diálogo e destranquem o país. Seguirão essas elites na mesma toada ou entenderão o recado?
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José Eduardo Garcia de Souza
02/08/2017 - 20h14
A articulista demonstra pela enésima vez a sua infinita capacidade de insultar a lógica e a inteligência alheia, já que a sua “análise” ignora por completo: 1) A repressão constante de Maduro à oposição, cristalizada ontem pelo retorno à prisão de Leopoldo López e Antonio Ledezma – em local não divulgado. 2) A farsa das urnas, confirmada pela Smartmatic, a empresa que assegurou a logística do ato eleitoral para a Constituinte que garantiu, em entrevista dada em Londres pelo seu CEO, Antonio Mujica que, pelo menos, um milhão de votos foram introduzidos e contabilizados sem que as pessoas tivessen efetivamente votado. 3) Que a Reuters noticiou, antes das seis da tarde, altura em que deveriam encerrar as urnas, que apenas 3,7 milhões tinham votado até aquele momento, o que fez com que as mesas eleitorais tivessem ficado pelo menos mais uma hora abertas, por decisão do conselho eleitoral. 4) Além da recusa latinoamericana maciça em reconhecer o resultado desta “eleição”, o não reconhecimento da mesma pela União Européia, que, nas palavras de Federica Mogherini, Alta Representante da União Europeia de Relações Exteriores Política de Segurança: “Agravou de forma duradoura a crise na Venezuela. A União Europeia e os seus Estados-membros não podem, portanto, reconhecer a Assembleia Constituinte devido a preocupações com a sua representatividade e legitimidade efetiva”. Ou seja, quando é que a cegueira ideológica dará lugar à lógica por parte da articulista, fazendo-a ver e entender – por milagre que seja – que as as eleições de domingo não marcaram um momento crucial na história do chavismo, mas sim confirmaram rotundamente a sua falência, eleitoral e moral?.