No Equador, um contra-ataque progressista.
O segundo turno das eleições do Equador, que aconteceu ontem, dia 2 de abril, coloca em cheque a análise de que existe uma volta ao conservadorismo na região. Por Verena Hitner
Por Nocaute em 03 de abril às 18h19
Verena Hitner, de Quito, especial para o Nocaute
O segundo turno das eleições do Equador, que aconteceu ontem, dia 2 de abril, coloca em cheque a análise de que existe uma volta ao conservadorismo na região. Até agora foram apurados 99% dos votos e Lenin Moreno, candidato apoiado por Rafael Correa, ganhou as eleições com 51,16% dos votos e uma diferença de mais de 200 mil votos com relação ao segundo colocado – o que para o Equador é altamente significativo, em uma população votante de 12 milhões de pessoas. O destaque é a província de Manabi, a mais afetada pelos terremotos de abril de 2016, onde Lenin Moreno contou com quase 70% dos votos.
A vitória de Lenin significou em primeiro lugar que o país decidiu por continuar com o processo de desenvolvimento progressista que teve início há 10 anos com a Revolução Cidadã.
Significa também que o país decidiu seguir avançando na garantia dos direitos sociais universais e gratuitos. Lenin Moreno representa um avanço para o país em termos de mudança. Ele é a garantia do aprofundamento do protagonismo popular, da estabilidade e da paz. Será um presidente que buscará articular diferentes interesses, ainda que isso não necessariamente signifique imprimir velocidade à mudança.
Derrotado, o banqueiro Guillermo Lasso tenta criar um clima de instabilidade. Em uma espécie de síndrome de Aécio Neves, Lasso ainda não reconheceu o resultado oficial das eleições. É impossível não recordar o que aconteceu no Brasil. Lasso segue as mesmas estratégias e discursos que o PSDB usou em 2014 de deslegitimar o processo eleitoral que elegeu Dilma presidente do país.
Também os meios de comunicação privados tem um papel nefasto nesse processo. A jornalista da Folha de S. Paulo que veio ao Equador cobrir o processo eleitoral já comemorava a vitória da oposição antes de sair qualquer resultado oficial. Ela ressalta em sua reportagem que a o instituto de pesquisa CEDATOS, que deu vitória à oposição é o mais confiável do Equador, sendo que o mesmo está sendo questionado por não apresentar sua metodologia de pesquisa para o Conselho Nacional Eleitoral.
Nas redes sociais, também podiam ser vistas mensagens da oposição instando a população fotografar o voto, dando a entender que poderia haver algum tipo de fraude, apesar das declarações dos mais de 280 delegados de missões de observadores internacionais, de que era impossível haver fraude no processo equatoriano.
Infelizmente, ainda não existe um remédio conhecido para isso no marco da democracia.
Lasso fechou a campanha na quinta-feira em um ato com aproximadamente cinco mil pessoas, com um discurso no qual predominou a palavra “mudança”. Entretanto, o que ficou claro é que a promessa de “mudança” de Lasso vai contra as expectativas da maioria da população do Equador, que quer que as transformações continuem. O dinamismo transformador dos mandatos de Rafael Correa tem respaldo popular. Igualmente, o papel do estado na redistribuição da riqueza, nas políticas sociais, na infraestrutura e na estabilidade política não parece algo de que a população queira abrir mão.
Os 10 anos de Revolução Cidadã produziram no país transformações estruturais, que permitiram democratizar os direitos sociais. A estabilidade dos últimos dez anos permitiu ao país avançar, melhorando as condições de vida da população. O presidente Correa sai do governo com um amplo e majoritário apoio popular.
Não será fácil para o próximo presidente governar sem levar em conta tudo o que foi feito até agora. Considerar como bens públicos a saúde, a educação, a segurança cidadã e a previdência social é a garantia do bem-estar das pessoas; são direitos dos cidadãos. O processo eleitoral deixou claro que as leis, instituições e autoridades constituídos no país, com a Constituição de 2008 de Montecristi, foram suficientes para forjar nesses anos processos democráticos significativos, que devem ser aprofundados para acabar com a pobreza e o país poder contar com uma sociedade mais equitativa, igualitária e justa para todos.
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Clóvis
03/04/2017 - 19h12
Nem tudo está perdido e o povo equatoriano deu mostras de que quer avançar mais, na busca de um país mais justo e igualitário…! ADELANTE COMPAÑEROS …!!!