Cultura

41ª Mostra Internacional de Cinema estreia com 98 filmes dirigidos por mulheres


 
Entre os dias 19 de outubro e 1º de novembro, serão exibidos os filmes da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O evento deste ano conta com 394 produções de diversos países e que terão sessões em 35 endereços diferentes em São Paulo e, também, em Campinas.
 
Eu estive na coletiva de imprensa da Mostra e queria comentar sobre alguns dos destaques.
 
O primeiro deles é sobre a arte do poster deste ano que foi produzida pelo artista chinês Ai Weiwei, talvez o artista chinês mais conhecido pelo público brasileiro. São duas mãos que se seguram em um fundo escuro. Esse cartaz gerou a vinheta, apresentada sempre no começo das sessões, e de cara você percebe qual vai ser a tônica da mostra deste ano. Ela começa sendo apresentada na horizontal e essas mãos parecem disputar uma espécie de queda de braço, um cabo de guerra, em que cada uma puxa para o seu lado. Quando você muda a perspectiva você vê que uma escorrega e o outra puxa pra cima e a partir disso elas chegam em um equilíbrio de forças. Parece que essas mãos se salvam a partir da mudança de perspectiva, o que é exatamente a ideia da Mostra e do cinema que é mudar as perspectivas e  as formas como a gente observa determinado movimento.
 
O Ai Weiwei vem a São Paulo, para lançar o filme “Human Flow – Não Existe Lar Se Não Há Para Onde Ir”, ele vai tratar a questão dos refugiados, que a gente já falou por aqui, e é uma temática presente em diversos filmes da mostra deste ano.   
 
Outros destaques, 98 títulos dirigidos por mulheres entre eles o “Zama” da Lucrecia Martel  que é o nome mais importante do cinema Argentino contemporâneo.
 
Também estará na Mostra o filme “The Square” que venceu a Palma de Ouro em Cannes e o filme “24 Frames”, o último trabalho do Abbas Kiarostami.
 
Temos diversas novidades, como a homenagem a Agnès Varda, um nome importante do cinema europeu, Paul Vecchiali, vai ter uma sessão debate com Laurent Cantet, um diretor que vai lançar um filme novo. Ele ficou conhecido aqui com o Entre os Muros da Escola. É um diretor muito aclamado aqui por esses lados.
 
Tem bastante novidades, e já na sessão para a imprensa, não é o filme que vai abrir a Mostra, mas é o filme que foi apresentado para os jornalistas, a gente já tem uma boa ideia do que vem por aí. É um filme que muita gente saiu impressionada, que é o Três Anúncios Para um Crime, do Martin McDonagh.
 
Eu não conhecia o trabalho dele, um filme que conseguiu capturar esse momento de tensão, de escalada do discurso fascista nos Estados Unidos da era Trump. Um filme que se passa numa cidadezinha, no interior dos Estados Unidos, em que uma mãe paga pelo anúncio de três outdoors que ficam em uma estrada esquecida, uma estrada que nem passa muita gente. Nesse outdoor ela escreve três mensagens como se fossem três twittes. No primeiro ela escreve: Minha filha foi morta enquanto era estuprada. No segundo ela escreve: Sete meses se passaram e o criminoso continua solto. E no terceiro ela pergunta: E aí xerife, não vai fazer nada?
 
Essas três mensagens fragmentadas, como têm sido fragmentadas as formas de comunicação por aqui, cria uma celeuma naquela cidadezinha porque o juiz é muito querido ali. Ele representa uma espécie de resguardo moral daquela cidadezinha. Ele é pontuado por vários diálogos com um sarcasmo muito bem construído. Ao mesmo tempo é um drama que acaba captando o enrijecimento desse discurso de justiça pelas próprias mãos, que colocam pessoas que não são necessariamente inimigas, mas que se colocam em campos opostos. E nesses campos opostos as pessoas andam tão ansiosas, tão presas a esses estereótipos que elas começam a tomar atitudes precipitadas, começam a colocar fogo nas coisas em algumas cenas, isso literalmente, antes de saber o que está acontecendo.
 
O que é exatamente o nó da sociedade contemporânea. As pessoas lêem as mensagens de modo fragmentado, no título já tomam posição, tomam algumas atitudes e decisões a partir daquele fragmento de informação. E no fim você tem uma impossibilidade de acordo. Ao mesmo tempo que você tem uma sugestão de que quando você tem identificação de um inimigo em comum, você tem uma causa unificadora. Esse é um dos pontos de quando você tem um discurso fascista tomando corpo. Então o filme mostra isso. Ele dá a dimensão do que vem por aí na Mostra.
 
Eu recomendo que todo mundo tente assistir, pelo menos uma, duas, três sessões, para saber o que está acontecendo na cinegrafia contemporânea em outros países, outros cenários, outras linguagens para tentar encontrar algumas chaves de compreensão do nosso ambiente privado. Esse filme, por exemplo, é imperdível. Eu saí de lá com a sensação de que era o melhor filme que eu tinha assistido esse ano. Depois eu vi que era uma sentença exagerada, a gente ainda tem muita coisa para ver até o fim do ano. Mas é um filme que me chamou muito a atenção: Três Anúncios Para um Crime, um dos filmes que está na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e acho que teremos outras gratas surpresas por aí. E é minha dica dessa semana, o Festival começa dia 19 de outubro até 1° de novembro. Até lá e boa sessão.

Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *