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Escolas são ocupadas na Catalunha para garantir o referendo de domingo

A dois dias do referendo na Catalunha, a principal dúvida é se o governo local conseguirá realizar a votação e em que condições. Onde estão guardadas as urnas? As cédulas de votação, algumas delas interceptadas pelo governo da Espanha, já chegaram às mãos dos organizadores? Quem trabalhará nos colégios eleitorais? Como serão auditadas as urnas? E ainda: qual é a proporção da força policial que Madri está disposta a usar para impedir a consulta popular?
Demonstrando tranquilidade, o presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, declara que não importam as condições, o referendo vai acontecer no próximo domingo (1º). Já o chefe do governo da Espanha, Mariano Raroy, afirma que os separatistas já foram enfraquecidos o suficiente.
O jornalista e escritor Fernando Morais, editor do Nocaute, está em Barcelona para acompanhar o referendo.
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Nocaute na Catalunha
Dezenas de colégios eleitorais do referendo estão sendo ocupados nesta sexta-feira com atividades lúdicas que irão acontecer até o final de semana, para garantir que fiquem abertos durante a votação. O movimento é chamado de “Escolas Abertas”.
Segundo o jornal catalão El Diario, três de cada cinco pontos de votação são centros educativos. Associações de pais e comitês de defesa do referendo, formados por ativistas e vizinhos, estão organizando as atividades nos locais.
O objetivo das ocupações é proteger os colégios da possível invasão da polícia, que tem ordens do Tribunal Superior da Justiça da Catalunha para impedir a votação.
Segundo o jornal, até agora houve um único incidente. Enquanto estudantes saíam de uma escola, pessoas entraram para ocupar o colégio, mas a diretora teria barrado e chamado a polícia catalã. Cerca de 30 pessoas ficaram dentro do local com alguns agentes de segurança, enquanto do lado de fora uma multidão se aglomerou aos gritos de “votaremos”, também com presença policial.
O movimento, que integra várias entidades do setor da educação a favor do referendo separatista, enviaram a todos os membros algumas instruções para ocuparem pontos de votação. Pedem para agir pacificamente e sem responder a provocações. Também consideram “imprescindível” que no local não haja imagens políticas ou partidárias. Outra instrução é que sempre tenha gente dentro ou ao redor dos colégios.
O governo já informou que tanto a polícia nacional como a catalã e a Guarda Civil vão desocupar esses locais, “sem violência”, até às 6h da manhã de domingo.
Um porta-voz do governo catalão mostrou à imprensa o modelo de urna que será usado e informou que 2.315 colégios eleitorais vão abrir, sendo 207 em Barcelona. Haverá 6.299 mesas e 7.235 mesários encarregados de garantir que o processo aconteça com normalidade. A jornada deve começar às 9h da manhã e terminar às 20h. A Catalunha tem 5.343.358 de eleitores.
A urna é feita de plástico e teve um custo de 5 euros.
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Para impedir a votação, o governo central já prendeu 14 integrantes do governo catalão, já violou correspondências, tirou 144 sites separatistas do ar e ordenou que a Guarda Civil e a polícia da Catalunha lacrassem os colégios eleitorais na sexta-feira.
Na quinta-feira, a Guarda Civil anunciou ter apreendido, em um galpão em Barcelona, 100 urnas, cerca de três milhões de cédulas e seis milhões de envelopes que seriam usados no referendo. A última medida foi anunciar multas que podem chegar até 300 mil euros para quem trabalhar na eleição.
Carles Puigdemont avalia que o efeito mais imediato da repressão é a mobilização popular. Isto porque, para além dos que partidários do “sim” e do “não”, há um setor que faz campanha pelo direito de fazer a consulta popular (“Por el derecho de decidir”, Pelo direito de decidir, em português).
Entre eles, destaca-se o ativista hacker Julian Assange, envolvido diretamente na campanha ao divulgar sites sobre o referendo hospedados fora da União Europeia para driblar a censura.
E também o clube Barcelona, que emitiu um comunicado informando que “adere ao Pacto Nacional pelo Referendo, à campanha de adesões para pedir apoio das instituições, entidades, cargos eleitos e privados, para celebrar um referendo sobre o futuro político da Catalunha”. O Barcelona já foi multado pela UEFA (União das Federações Europeias de Futebol), que proíbe mensagens políticas nos jogos de futebol.
Uma pesquisa divulgada nesta semana pelo jornal espanhol El Diario informa que 63% dos eleitores querem votar, enquanto 9% não sabem ainda e 27,7% são totalmente contra realizar a votação. Em 17 de setembro, o número de pessoas que queria votar era de 52,9%.
 
 
*Texto atualizado às 16h.

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  1. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    Este referendo é ilegal. Só vai servir para os interessados abrirem berreiro depois e acusarem o governo espanhol de “repressor”, “proto-franquistas” e asneiras semelhantes.

  2. Avatar

    Caro Fernando, aqui entre nós, o uso de crianças como escudo contra uma ação policial não deixa de ser uma atitude covarde e pusilânime dos “independentistas”.

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