Dia 08 de março, dia da Mulher. Feliz dia de receber flores. Feliz dia de ser homenageada pela sua sensibilidade e delicadeza. Feliz dia de receber desconto na hidratação e no banho de queratina. Feliz dia de assistir uma palestra sobre protagonismo feminino dada por um homem. Feliz dia de ver uma exposição sobre mulheres do mundo, feita por um fotógrafo homem. Feliz dia de receber desconto na livraria, mas só pra livros femininos como autoajuda, culinária. Matemática, não. Direito, não.
Feliz dia de ter a nossa capacidade multitarefa exaltada por publicitários homens. Feliz dia de ter a dupla jornada exaltada como força feminina e não como exploração do patriarcado. Feliz dia de ganhar desconto em maquiagem. Feliz dia de ouvir elogio sobre a sua feminilidade. Do tipo: você é lésbica, mas nem parece. Feliz dia de continuar sendo igualmente assediada. Feliz dia de continuar ganhando vinte por cento a menos. Feliz dia de continuar sendo assassinadas por homens. Feliz dia de continuar tendo medo de andar sozinha. Feliz dia de continuar a ter os direitos sobre os nossos corpos criminalizado.
Feliz dia de continuar ouvindo que ser mulher implica em ser mãe. Feliz dia de continuar ouvindo que o feminismo defende o privilégio feminino e que a nossa pauta está ultrapassada. Feliz dia de continuar ouvindo que o feminismo é desnecessário, que a nossa luta é vitimismo, é mimimi. Feliz dia de ter que ouvir homens dizendo o que o feminismo deve ou não deve fazer. Nesse 08 de março, não dê flor. Dê voz.
